Transporte de animais vivos é prática cruel

Centenas de milhares de animais vivos são exportados todos os anos do Brasil para países longínquos, como Turquia, Líbano e Jordânia. Eles são transportados por navios em viagens extremamente longas que podem durar semanas. O gado viaja em pé e sem espaço para se movimentar. Os navios não têm estrutura para receber os animais, que sofrem com sistemas de ventilação ruins e barulhentos, falta de higiene e assistência veterinária, e movimentos bruscos durante o caminho, que podem causar quedas, pisoteamentos, fraturas e até a morte.
A exportação de gado em pé, como é comumente chamada, é repudiada por ambientalistas e defensores da causa animal. No início de fevereiro, uma grande mobilização tentou impedir a viagem de 25 mil bois do porto de Santos à Turquia. O embarque chegou a ser suspenso pela justiça, mas foi derrubado por recurso impetrado pela Advocacia Geral da União (AGU).
A crueldade começa no transporte de fazendas até o porto. A pedido da Justiça Federal, a veterinária Magda Regina inspecionou os caminhões que levaram os bois até o porto de Santos. Os animais saíram de zonas rurais situadas a 500 quilômetros do litoral. Até 38 bois foram transportados em um único caminhão. De acordo com o laudo, “no interior dos caminhões não há a mínima possibilidade de mudança de posição do animal uma vez embarcado”.
No porto, os animais recebem sucessivos choques elétricos para descerem do caminhão e entrarem no navio, que também foi inspecionado por Regina. A veterinária registrou uma imensa quantidade de excrementos acumulados, que se transformaram em uma grande camada lamacenta de dejetos no assoalho do navio. O ambiente ainda era barulhento por causa do sistema de ventilação artificial; sem contar as estreitas acomodações que dificultavam a movimentação do gado. “Os animais são alocados em grupos (em baias ou bretões), em espaços exíguos, por exemplo, totalizando dimensões menores que 1m² por indivíduo”.
Outra crítica de Regina foi em relação à falta de estrutura da embarcação. Os pisos e divisórias de metal ficam escorregadios quando sujos de fezes e urina, fazendo com que os animais se acidentem e venham a óbito com frequência. A própria movimentação do barco também provoca atrito entre os bois, que podem se ferir, cair no chão e serem pisoteados. Para a veterinária, “o transporte marítimo de animais por longas distâncias está intrínseco à causação de crueldade, sofrimento, dor e corrupção do bem-estar animal”.
“Todo ano morrem muitos animais devido à sua má adaptação às rações dadas a bordo, ao estresse térmico causado pela deficiente aclimatação durante o trânsito por grande distância e mudanças climáticas sazonais. As doenças propagadas devido à higiene deficiente e alta densidade de animais exacerbam esses desafios assim como a capacidade do sistema de imunidade do animal para fazer face a seus efeitos”, pontua em relatório a veterinária Lynn Simpson. Ela navegou por mais de uma década no transporte de gado da Austrália a portos do hemisfério norte e fotografou as péssimas condições dos animais, com total falta de bem-estar, intrínseca a jornadas de longo curso por via marítima.
Além de condições insalubres, estresse e traumas, há registros de terríveis acidentes. Em 2015, um navio afundou no porto de Pará e 5 mil bois morreram afogados ou abatidos ainda dentro do mar por ribeirinhos. Meses depois moradores ainda encontravam manchas de óleo e restos de carcaças. Em 2012, o sistema de ventilação de uma embarcação parou de funcionar em alto mar e 2.750 bois morreram. Durante o trajeto, os animais mortos são atirados ao mar, assim como toneladas de dejetos.
Esse comércio é amplamente criticado e combatido ao redor do mundo. Desde 2016, a Nova Zelândia não permite transporte de animais vivos para abate, exceto mediante solicitação antecipada e atendimento a uma série de exigências de bem-estar ao longo da viagem, no desembarque e durante todo o manejo no país de destino.
No Brasil, esse movimento tem ganhado força. Uma petição online criada na plataforma change.org conta com mais de 43 mil assinaturas contra a exportação de animais vivos. Assine e divulgue para seus amigos! Junte-se a nós contra essa crueldade.
Neste sábado (17), a partir das 10h, manifestantes se reunirão na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, para protestar contra a exportação de gado em pé. Confirme presença no evento no Facebook e convide os amigos para lutar pelos direitos dos animais!