Notícias

Abismo climático na Amazônia se aproxima

Abismo climático na Amazônia se aproxima
Área da floresta amazônica desmatada por madeireiros e fazendeiros perto da cidade de Santarém (PA); imagem registrada em 2013 / Crédito: Nacho Doce/Reuters

Se o Brasil e demais países amazônicos não conseguirem evitar que o desmatamento na Amazônia supere os 20% de sua área original, boa parte da maior floresta tropical pode desaparecer num futuro não tão distante. O alerta, assinado pelo climatologista Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências, e o biólogo Thomas Lovejoy, da Universidade George Mason (Virgínia, EUA), foi publicado em uma das principais revistas científicas do mundo.

O grande temor dos pesquisadores é descobrirmos o chamado ponto de virada do sistema amazônico – ou seja, qual nível de desmatamento e degradação pelo fogo faria com que grandes porções da floresta se tornassem inviáveis – quando já for tarde demais.

O primeiro dos fatores destrutivos citados é o desmatamento. Segundo Nobre, a destruição da floresta só não ultrapassou o limite perigosamente alto de 20% porque muitas áreas abandonadas na Amazônia já se regeneraram; ele estima que o número real atualmente esteja entre 15% e 17%.

Desmates e queimadas deixam a floresta mais vulnerável durante períodos de seca, já que a luz solar penetra com mais facilidade, levando ao acúmulo de matéria vegetal inflamável. Há indícios de que os períodos de seca têm sido mais comuns nas últimas décadas, com três episódios fora da curva em 2005, 2010 e 2015, por exemplo. Esses períodos de estiagem parecem estar ligados ao aquecimento anormal das águas do Atlântico, que, por sua vez, é o esperado com uma temperatura média global mais alta.

Todos esses fenômenos podem ter péssimos impactos para a disponibilidade de água em boa parte da América do Sul porque a Amazônia, em grande medida, é capaz de reciclar seus próprios recursos hídricos, por meio dos processos de evaporação e transpiração das árvores e pelas moléculas orgânicas produzidas por elas, as quais ajudam a condensar nuvens de chuva. Boa parte dessa umidade é exportada rumo ao sul durante o inverno – justamente a época mais crítica no que diz respeito à falta d’água em boa parte do continente.

Apesar de o desmatamento ter passado por aumentos em anos recentes, na contramão da tendência de redução desde 2004, Nobre considera que não houve mudança na postura governamental. “O Brasil tem mantido seus compromissos no Acordo de Paris e continua buscando se colocar como liderança nessa área. A questão é saber até que ponto o discurso está afinado com a prática. E não há dúvida de que há forças políticas que querem expandir a produção de carne e grãos na Amazônia até os limites da demanda do mercado internacional por esses produtos, o que seria muito ruim”, diz o climatologista.

Com informações da Folha de São Paulo