Brasil pode criar extenso mosaico de UCs marinhas
Embora possua mais de 10 mil km de costa e soberania sobre cerca de 3,5 milhões de km² de zona econômica exclusiva, a biodiversidade marinha brasileira nunca recebeu a devida atenção. Agora, o país tem a chance de proteger 900 mil km² – mais que o tamanho da França.
De norte a sul, com quase 8.000 km, o Brasil possui a maior área costeira do Atlântico Sul, morada de espécies raras e deslumbrantes e de uma biodiversidade única. Contudo, o país possui atualmente menos de 2% de unidades de conservação marinhas.
O governo brasileiro tem a chance de reescrever a história. Está nas mãos do presidente Michel Temer a criação de duas UCs federais: uma na costa de Pernambuco, a área de São Pedro e São Paulo; e outra na costa do Espírito Santo, Trindade e Martim Vaz.
A Ilha da Trindade surgiu do embate entre a água fria e o magma incandescente de vulcões nas profundezas do Oceano Atlântico há cerca de 3,5 milhões de anos. Mergulhando na costa do Espírito Santo, a lava das erupções formou uma cordilheira submersa, a cadeia Vitória-Trindade. O arquipélago é o único ponto em que as enormes montanhas dessa cadeia ultrapassaram o nível do mar.
A cadeia representa uma formação única no planeta, composta por uma cordilheira de montanhas de mais de 1.000 km de extensão, que conecta a costa central do Brasil à Ilha da Trindade e do arquipélago Martim Vaz. A região é reconhecida nacional e internacionalmente como um hot spot, área de alta prioridade para a conservação e uso sustentável da biodiversidade.
As ilhas abrigam a mais alta diversidade de algas calcárias do mundo, a maior riqueza de espécies recifais e endêmicas de todas as ilhas brasileiras e ainda uma das maiores taxas de peixes e tubarões do Atlântico Sul. Entre as espécies endêmicas, estão o caranguejo-amarelo, pardela-de-trindade, uma subespécie de fragata, e bosques de samambaias gigantes com mais de cinco metros.
Arquipélago de São Pedro e São Paulo
O conjunto de ilhotas é o menor e mais isolado arquipélago tropical do planeta. Está localizado a cerca de 1.000 km da costa do Nordeste do Brasil e a 1.890 km da costa Oeste do Senegal, África, no meio do Oceano Atlântico equatorial. É formado por pequenas ilhas rochosas que surgiram com o soerguimento do manto do assoalho submarino, formação geológica única no mundo.
Devido ao seu isolamento geográfico, apresenta elevada concentração de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. As características únicas da área atraem as atenções de cientistas desde o século 19, incluindo trabalhos realizados por Charles Darwin a bordo do navio HMS Beagle, em 1832.
Apesar do território reduzido, é um importante sítio para aves marinhas, possui grande diversidade recifal com números que aumentam constantemente com novas descobertas e é local de repouso, alimentação e reprodução de espécies marinhas migratórias e ameaçadas. Além disso, garante ao Brasil um território marinho de cerca de 430 mil km², uma porção bastante significativa de sua Zona Econômica Exclusiva.
As áreas são atualmente administradas pela Marinha do Brasil e uma ação articulada e estratégica entre os Ministérios do Meio Ambiente e da Defesa permitiu o avanço das negociações com agilidade. Diversas organizações, entre elas a Amda, enviaram ofício ao presidente da república reiterando seu apoio à criação das UCs e solicitando ainda que sejam ampliadas ao máximo as categorias de Proteção Integral.
Junte-se a nós na defesa da biodiversidade marinha brasileira! Agora #ÉaHoradoMar! Clique aqui para enviar uma mensagem ao presidente apoiando a criação das UCs.
Confira a entrevista com Maximiliano Bello, um dos grandes especialistas em conservação marinha do mundo. Encarregado da unidade internacional de conservação da organização independente The Pew Charitable Trusts, ele também atua como assessor do projeto Legado para os Oceanos, da Pew Bertarelli, criado em 2006 para estabelecer a primeira geração mundial de grandes parques marinhos.