Hong Kong utiliza água do mar nas descargas há mais de cinco décadas

Há mais de cinco décadas Hong Kong utiliza um sistema para captar água do mar e usá-la nas descargas dos banheiros. A ideia surgiu em 1958, quando a ilha já se deparava com a perspectiva de falta d’água.
O solo rochoso de Hong Kong não guarda reservas hídricas subterrâneas expressivas e as chuvas atendem a apenas um quarto da demanda. O restante é importado da China por meio de dutos submarinos ou trazido do mar.
Uma enorme quantidade de água doce é usada nas descargas. Os modelos mais recentes – e eficientes – empregam sete litros cada vez que são acionados, mas esse volume pode triplicar em versões mais antigas. Segundo a ONG britânica Waterwise, esse uso representa cerca de 30% do consumo hídrico doméstico e até 70% do uso em edifícios comerciais.
Atualmente, 80% dos 7,2 milhões de habitantes da ilha têm descargas abastecidas com água salgada. A infraestrutura é composta por 35 estações de transmissão e 1,5 mil km de tubulações.
O Departamento de Fornecimento de Água de Hong Kong esclarece que a água do mar não recebe o mesmo padrão de tratamento da água doce. Mas a empresa pontua que ainda assim “cumpre diretrizes” para evitar eventos adversos. Primeiro, a água é filtrada para retirar grandes partículas de impurezas. Depois, é desinfetada com cloro ou hipoclorito de sódio antes de ser levada a reservatórios, de onde é distribuída à população.
O programa foi premiado em 2001 pelo Chartered Institution of Water and Environmental Management, entidade britânica que reúne profissionais, cientistas e empresários dedicados a questões ambientais.
“Usar água do mar em descargas economiza não só água, mas também energia. Requer a metade da energia usada na produção de água potável, dez vezes menos do que no tratamento de água de esgoto e cem vezes menos do que o processo de dessalinização”, disse Chen Guanghao, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.
A ilha é, até hoje, a única cidade do mundo a usar água do mar nessa escala. Há outros exemplos menores, como o de Avalon, cidade na ilha de Catalina, na Califórnia (EUA), com 3,5 mil habitantes, e as ilhas Marshall, também no oceano Pacífico.