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Poluição luminosa impede que mais de 80% da população mundial veja a Via Láctea

Poluição luminosa impede que mais de 80% da população mundial veja a Via Láctea
Via Láctea ao pôr do sol

Quantas vezes você já parou para observar o céu? Se tem muito tempo que você não olha para cima, é melhor correr. O céu noturno com suas estrelas é uma visão cada vez mais rara para grande parte da população do planeta. Um novo atlas global da poluição luminosa, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Italiano de Ciência e Tecnologia da Poluição Luminosa, indica que mais de um terço da humanidade vive em lugares onde o brilho da iluminação artificial esconde a Via Láctea, o “rio” de estrelas que caracteriza nossa galáxia e domina as noites sem Lua.

Para produzir o novo atlas – o anterior é datado de 2001 -, os pesquisadores contaram com dados captados pelo satélite americano de observação da Terra Suomi NPP. Lançado em 2011 numa parceria entre a NOAA e a Nasa, a agência espacial dos EUA, o Suomi NPP leva a bordo um instrumento batizado VIIRS (sigla em inglês para “conjunto radiométrico para imageamento visível e infravermelho”) que é o primeiro intencionalmente desenhado para observar e medir as luzes urbanas do espaço.

Os dados do satélite foram calibrados e validados com medições feitas em mais de 20 mil localidades em terra ao redor do mundo, das quais aproximadamente 20% foram realizadas por “cientistas-cidadãos” voluntários, por meio dos aplicativos Globe at Night (“o globo à noite”, numa tradução livre, e disponível em português na internet) e Loss of the Night (“a perda da noite”, também em tradução livre, e que deverá ter uma versão em português a partir do ano que vem).

Os resultados apontam que o problema é maior em países ricos, como União Europeia e EUA, onde, respectivamente, quase 60% e 80% da população não conseguem mais ver a Via Láctea de onde moram. O Brasil também entra na lista dos países em desenvolvimento afetados pelas luzes artificiais: 62,5% dos brasileiros estão impedidos de observar nossa galáxia.

Ainda segundo a pesquisa, 83,2% da humanidade estão expostos a um nível já relativamente alto de poluição luminosa, sendo que 13,9% da população mundial vivem em locais tão iluminados – com um brilho no céu acima de 3 mil microcandelas por metro quadrado (mcd/m2) – que seus olhos não precisam mais atuar à noite na chamada visão escotópica, produzida sob baixa luminosidade em que os bastonetes – receptores em nossa retina responsáveis pela detecção de cores e que só funcionam em boas condições de luz – são “desligados”.

Estudos apontam que a poluição luminosa prejudica a saúde humana, afeta padrões de sono e provoca danos ao meio ambiente, em especial a animais de hábitos noturnos. E o problema não é pequeno, mais pervasivo até do que a poluição atmosférica e a qualidade do ar, que recebem muito mais atenção dos governos e dos próprios habitantes das cidades.

“O novo atlas nos dá uma documentação crítica do estado do ambiente noturno enquanto estamos à beira de uma transição mundial para a tecnologia LED. Se não tivermos considerações cuidadosas para a cor do LED e seus níveis de iluminação, esta transição pode levar a um aumento de duas a três vezes do brilho do céu em noites sem nuvens”, alerta Fabio Falchi, um dos autores do atlas.

Com informações do O Globo