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Botos-cinza da Baía de Sepetiba podem desaparecer em dez anos

Botos-cinza da Baía de Sepetiba podem desaparecer em dez anos
Botos cinza ameaçados de extinção na Baia de Sepetiba/Ilha Grande / Crédito: divulgação/Instituto Boto-Cinza

A possível duplicação do canal da Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, colocará os botos-cinza em uma situação ainda mais crítica. Já ameaçados com o avanço da pesca ilegal, feita com traineiras e imensas redes, o Ministério Público Federal estima que, se nada for feito de imediato, em dez anos o boto-cinza desaparecerá de vez da região, considerada a área com maior população da espécie no mundo.

Há dez anos, viviam na região grupos de 200 a 300 botos, mas atualmente os bandos não chegam a ter 150 integrantes cada. A população do animal, que já foi de 1.290 exemplares em 2002/2003 na Baía de Sepetiba, de acordo com o primeiro estudo científico publicado na época, atualmente, segundo o Instituto Boto-Cinza (IBC), não chega a 800. Somente em janeiro foram sete mortos.

“Se hoje o tráfego de navios é de 1.800 por ano, a tendência é que esse número dobre. Haverá mais dragagens e explosões também. O fluxo será tão intenso, que os botos ficarão acuados. Os pescadores artesanais acabam sendo vítimas também, pois são empurrados para os estuários”, alerta o biólogo e coordenador científico do IBC, Leonardo Flach, explicando que os botos perdem cada vez mais espaço no seu habitat, devido ao aumento dos empreendimentos portuários e das áreas de fundeio.

Em fevereiro, o Ministério Público Federal fez uma série de recomendações a 12 entidades públicas e privadas, para evitar a extinção do boto-cinza nas baías de Sepetiba e da Ilha Grande. A procuradora da República Monique Chequer recomenda, por exemplo, que haja fiscalização por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal. Já ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a procuradora sugere que ele seja mais rigoroso na concessão de licenciamentos. Segundo ela, o Inea faz, para todas as empresas, a mesma exigência: um monitoramento do boto-cinza, de maneira genérica. O Inea não avalia, de acordo com o MPF, a área impactada, o que torna ineficaz o monitoramento.

“A recomendação não tem caráter de sanção. Estamos marcando posição há bastante tempo, mas não temos visto qualquer ação efetiva, pelo contrário. Se todos os esforços derivados dessa recomendação não surtirem efeitos, o MPF tomará ações drásticas, responsabilizando criminalmente e também acusando de improbidade administrativa todas as autoridades envolvidas desde o início. Não basta boa vontade. Falta investimento material e humano”, disse a procuradora.

De acordo com o documento do MPF, os problemas nas baías de Sepetiba e Ilha Grande começaram em 2010, quando teve início a ampliação de portos e estaleiros. Em Sepetiba, os anos de 2013, 2014 e 2015 foram responsáveis por 50% das mortes de botos-cinza registradas na última década: 170. Segundo o IBC, houve 82 notificações no ano passado, mas apenas 71 carcaças de animais foram recolhidas. “O número de mortes pode ser maior”, disse Flach.

Com informações do O Globo