Mudanças climáticas alteram comportamento dos beija-flores

As mudanças climáticas estão provocando diminuição da atividade de voo de beija-flores e, consequentemente, da polinização de vegetais por esse grupo de aves. A constatação é de pesquisadores da Universidade de Taubaté (Unitau), em colaboração com colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo (EEL-USP) e da University of Toronto Scarborough, do Canadá, durante projeto realizado com apoio da FAPESP no âmbito de um acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os pesquisadores estudaram oito espécies de beija-flor encontradas em diferentes níveis de altitude no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo. Duas das espécies são de baixa altitude – o beija-flor rajado (Ramphodon naevius) e o topetinho-verde (Lophornis chalybeus); outras duas são de alta altitude – beija-flor de topete (Stephanoxis lalandi) e o beija-flor de papo branco (Leucochloris albicollis); três ocorrem ao longo de todo o gradiente elevacional do Vale do Paraíba – o beija-flor de fronte violeta (Thalurania glaucopis), beija-flor rubi (Clytolaema rubricauda) e beija-flor de garganta verde (Amazilia fimbriata); e a última – o beija-flor preto (Florisuga fusca) – é migratória. O grupo de aves foi escolhido em função de sua alta taxa metabólica, relacionada com fatores ambientais, como temperatura e altitude.
“Observamos que o aumento da temperatura causa a diminuição da taxa metabólica de beija-flores [a quantidade de oxigênio consumido necessário para produzir energia]. Com isso, cai a frequência de batimentos de asa das aves e, consequentemente, elas passam a voar menos e diminuem a procura por néctar em flores”, explicou Maria Cecília Barbosa de Toledo, professora do Departamento de Biologia da Unitau e coordenadora do projeto.
Para simular os efeitos das variações climáticas, os pesquisadores usaram como referência o gradiente climático altitudinal da região montanhosa do Vale do Paraíba, que varia de três metros a 1,8 mil metros de altitude. Nessas regiões, com diferentes níveis de elevação altitudinal e temperatura variável entre 10 e 30 ºC, eles avaliaram a taxa metabólica em campo de beija-flores rubi, uma das três espécies que ocorrem ao longo de todo o gradiente altitudinal do Vale do Paraíba.
Após ser capturado, o beija-flor foi colocado dentro de uma câmara com um alimentador, no alto do recinto, composto por um tubo plástico contendo uma solução de sacarose a 20%, e um poleiro que serve de balança para indicar o peso do animal. Para alcançar a solução, a ave precisava pairar no ar e inserir a cabeça dentro do tubo de plástico do alimentador, que funciona como uma máscara respiratória, com passagem de 2,5 mil mililitros de ar por minuto. Ao pairar no ar e inserir a cabeça no tubo, os pesquisadores conseguiam analisar a temperatura, além do volume de oxigênio consumido e o total de dióxido de carbono produzido pela ave durante o voo pairado.
Dessa forma, conseguiram estimar as taxas metabólicas dos pássaros em diferentes temperaturas ao longo do gradiente altitudinal do Vale do Paraíba. “Esse sistema possibilita avaliarmos a taxa metabólica de beija-flores em atividade, que é o dado mais importante para mensurarmos os efeitos das mudanças climáticas no metabolismo dessas aves”, explicou Toledo.
Conclusões
Uma das constatações dos experimentos foi que o aumento da temperatura diminui a taxa metabólica do beija-flor rubi. A taxa metabólica da ave foi maior em uma faixa de temperatura mais amena, entre 20,1 e 25 ºC, e menor sob temperaturas mais altas, entre 25,1 e 30 ºC.
Nessa faixa de temperatura mais elevada, o pássaro tende a diminuir a frequência de batimento de asas, procura mais sombra para permanecer em repouso e voa menos para manter seu metabolismo e diminuir o gasto energético.
“Essa mudança de comportamento pode causar a diminuição da polinização de vegetais por essas aves. Os beija-flores passam a visitar menos as flores silvestres em busca de néctar e, consequentemente, deixam de transportar pólen de uma flor para outra”, estimou a pesquisadora. Segundo ela, a preocupação é se as plantas visitadas pelas aves serão capazes de ajustar suas concentrações de néctar a tempo de acompanhar as mudanças climáticas e continuarem fornecendo energia para essas aves.
*Com informações da Agência Fapesp