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Entidades enviam carta aberta a chefs de São Paulo sobre proibição do foie grass

Entidades enviam carta aberta a chefs de São Paulo sobre proibição do foie grass
Crédito: portal.rebia.org.br

No último dia 25, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad sancionou a Lei 16.222/2015, que proíbe a produção e comercialização de foie gras, uma iguaria da culinária francesa. A prática utilizada para produção, conhecida como gavage, é extremamente cruel. A medida foi comemorada por ambientalistas e defensores dos animais. Do outro lado, chefs de cozinha ficaram indignados e criticaram a aprovação. Nesta segunda-feira (29), Guilherme Carvalho, secretário executivo da Sociedade Vegetariana Brasileira; Luisa Mell, apresentadora e defensora dos animais; Lilian Rockenbach, coordenador do Movimento Crueldade Nunca Mais; e Sônia Fonseca, presidente do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal divulgaram uma carta aberta aos chefs.

Primeiramente, as entidades pontuam que Haddad não tomou uma decisão pessoal: “ele agiu dentro da sua responsabilidade de gestor público de proteger os animais e o meio ambiente e, sobretudo, ouviu o clamor popular: em poucos dias, 100 mil pessoas assinaram a petição pela proibição da iguaria”.

Na carta, as instituições afirmam que nem o movimento em defesa dos animais e nem o prefeito têm qualquer interesse em sabotar os estabelecimentos. “Pelo contrário. Acreditamos que os restaurantes e chefs devem ser protagonistas nessa tendência mundial por uma alimentação mais ética, mais consciente e mais respeitosa com o meio ambiente e com os animais – e devem se beneficiar disso”, apontam.

Para as entidades, a aprovação da lei é uma grande chance de mostrar que a cidade de São Paulo não precisa de uma iguaria do sofrimento animal para oferecer uma comida incrível e apresentar um universo de ingredientes – ervas, grãos, frutos, algas, temperos, óleos, legumes, molhos – que, se bem utilizados, podem deslumbrar desde o paladar mais conservador ao mais ousado, sem precisar submeter animais a sofrimentos como esse.

Segundo o texto, cerca de 10% da população brasileira se declaram vegetarianos. Parte dos outros 90% já demonstra intenção de reduzir e repensar seu consumo de produtos de origem animal. “E certamente, uma porcentagem massiva da população repudiaria a criação de patos e gansos para foie gras se conhecesse o processo de gavage.” As instituições ressaltam ainda que os consumidores não buscam apenas o paladar; eles bucam “um consumo consciente e uma alimentação coerente com os seus princípios, e esses
princípios frequentemente incluem o respeito aos animais”. Para o grupo, “o foie gras é um ícone da crueldade contra os animais ditos ‘de consumo’ e, como tal, não tem mais lugar na nossa sociedade”. As entidades concordam que o sofrimento animal vai muito além do foie grass e exemplifica casos de frangos e vacas leiteiras, que passam anos em gestações induzidas consecutivas, com inflamações nas tetas e tendo seu filhote separado à força apenas 24 horas após o nascimento, no auge do instinto maternal.

Para finalizar, as instituições ponderam que “a nova lei deve ser recebida como uma oportunidade de participar da evolução ética da alimentação, uma oportunidade de buscar o novo. Os restaurantes de São Paulo contam com profissionais altamente qualificados e capazes de inovar e criar outros pratos extraordinários sem o foie gras”.

A lei entra em vigor em 45 dias e não afeta o consumo ou uso de produtos já adquiridos ou que venham a ser adquiridos fora da cidade.

Entenda o gavage

O foie gras é o fígado de patos ou gansos obtido de forma cruel. Durante 17 dias seguidos, as aves são superalimentadas por um funil de mais de 40 centímetros inserido violentamente em suas gargantas. Esse processo faz com que o fígado aumente, em média, sete vezes em relação ao tamanho normal. A introdução do tubo provoca lesões no pescoço e pode causar dolorosas inflamações e infecções, além de provocar doenças no sistema digestivo, que podem ser mortais.

O foie gras é proibido em 22 países, entre eles Argentina, Áustria, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Irlanda, Israel, Noruega, Suécia, Suíça, Holanda, Reino Unido e até mesmo na Polônia, um dos maiores produtores mundiais. O estado da Califórnia, no EUA, também proibiu a iguaria.