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Projeto para construção de canal em lago da Nicarágua sem estudo de impacto ambiental preocupa especialistas
Um projeto para construção de um canal de 278 quilômetros na Nicarágua, que conectaria os oceanos Pacífico e Atlântico via mar do Caribe, tem preocupado especialistas. O projeto de US$ 50 bilhões foi idealizado pelo empresário chinês Wang Jing e tem apoio do governo nicaraguense, que alega que o canal estimulará a economia do país. O projeto preliminar já foi iniciado, mesmo sem a finalização do estudo de impacto ambiental.
Cientistas locais e internacionais alertam que a construção resultaria em uma catástrofe ambiental, ameaçando ecossistemas de todo o país. Eles também alegam que isso deslocaria dezenas de milhares de nicaraguenses, incluindo povos indígenas, pois o canal passaria pelo território deles.
Segundo especialistas, os danos causados ao lago seriam enormes. Um terço da extensão total do canal atravessaria o lago, cuja profundidade média de 12 metros seria dragada até atingir quase o dobro. Esse processo e a previsão de 25 travessias diárias de grandes navios podem comprometer a qualidade da água do lago, assim como a ocorrência de possíveis vazamentos de combustíveis. Atualmente o lago fornece água potável para algumas cidades nicaraguenses, e se esta tendência de aumento da população e da diminuição da quantidade de aquíferos continuar, mais partes do país, e talvez mais países da América Central, podem ser forçados a explorar o lago para obter água.
Do lago Nicarágua, o canal iria para leste, cortando os pântanos isolados, reservas naturais e florestas, muitas delas sem acesso por estradas. O canal e sua infraestrutura poderiam facilmente ocupar muitos quilômetros, e as estradas e campos de construção abririam passagem por grandes áreas selvagens, habitadas por populações indígenas, centenas das quais teriam de ser realocadas. O lago contém 40 espécies endêmicas de peixes, incluindo um tubarão de água doce raro e 16 tipos de ciclídeos.
Na parte caribenha, o tráfego gerado por superpetroleiros e navios de carga poderia ameaçar o ecossistema marinho, que inclui a reserva de biosfera da Colômbia, com 648 mil quilômetros quadrados, berço do segundo maior sistema de corais do Caribe. E o canal dividiria em dois o Corredor Ecológico Mesoamericano, uma rede independente de reservas e outras terras que se estende do extremo sul do México até o Panamá, e é usada por animais, como o jaguar, para atravessar a América Central.
Apesar dos alertas sobre os graves impactos ambientais, o projeto continua a progredir. Em 2013, foi conferida à empresa de Jing, o Grupo Hong Kong de Desenvolvimento do Canal da Nicarágua (HKND, na sigla em inglês), uma concessão renovável por 50 anos para construção e operação do canal. A proposta foi impulsionada pelo presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, cujo filho é o representante de Jing.
Uma das muitas preocupações de cientistas e ambientalistas é que a HKND contratou seu próprio estudo ambiental, que está sendo feito às pressas. Os cientistas afirmam que à empresa de consultoria contratada, a Environmental Resource Management (ERM), só foi dado prazo de um ano para realização do estudo que deveria levar, no mínimo, vários anos para ser finalizado.
Com informações do Yale Environment 360