Especialistas alertam sobre mudanças climáticas e futuro do planeta

“Somos natureza em essência”. A frase foi dita pelo economista Marcus Eduardo de Oliveira, professor da UNIFIEO/ SP, durante sua palestra no 49º Encontro de Instituições Apoiadoras da Amda, que aconteceu entre 5 e 7 de novembro em Juiz de Fora e teve como anfitriã a empresa ArcelorMittal. O professor falou sobre economia ecológica e deixou os participantes boquiabertos com números assustadores sobre consumo, desperdício de produtos e alimentos, lixo, poluição e efeito estufa. As mudanças climáticas e o futuro do planeta também estiveram no centro das discussões.
“A economia é um subsistema de um sistema muito maior, o meio ambiente. A economia não funciona sem os chamados serviços ecossistêmicos, mas vem degradando a natureza em prol de um modelo de desenvolvimento deturpado, no qual a felicidade está diretamente relacionada ao consumo”, afirmou Oliveira. A obsolescência programada de produtos contribui significativamente para um consumo desenfreado, gerando ainda mais lixo em todo o planeta. Segundo o economista, 2 milhões de toneladas de lixo domiciliar são produzidos por dia, o equivalente a 730 milhões de toneladas por ano.
Os alimentos também entram na conta do desperdício. O Brasil perde 44% de tudo o que é plantado: 20% durante a colheita, 8% entre o transporte e armazenamento, 15% na indústria de processamento e 1% no varejo. Somando-se as perdas decorrentes dos hábitos alimentares e culinários, tem-se mais 20% de alimentos que são estragados, o que faz subir este índice para 64%, gerando um custo anual em torno de R$ 80 bilhões em alimentos, energia, água e demais recursos que simplesmente viram lixo.
Estes fatores também estão relacionados ao crescimento populacional. Em 1900, 1,5 bilhão de pessoas habitavam a Terra. Atualmente, somos 7 bilhões e, em 2050, seremos 9,5 bilhões. “Estamos crescendo no mesmo planeta. O planeta está do mesmo tamanho, com os mesmos recursos naturais, que são esgotáveis”, afirmou Oliveira.
Quem também abordou a situação alarmante do planeta foi Silvio Santana, presidente da Fundação Esquel Brasil. Santana abordou as mudanças climáticas que já podem ser sentidas em vários pontos do globo. Levando em consideração o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Santana disse que “não temos nem noção do que está para acontecer”. Para ele, nunca tivemos uma situação tão ruim como a atual.
Um dos responsáveis pelas alterações do clima é o efeito estufa. A queima de petróleo, carvão mineral e florestas, aliada à ação das indústrias que poluem o ar, introduzem bilhões de toneladas por ano de gás carbônico na atmosfera, promovendo o aquecimento do planeta. Até o ano 1900, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera era de aproximadamente 300 partes por milhão (ppm). Atualmente, a concentração está quase atingindo 400 ppm. O aumento anual tem sido de dois ppm. Se esse nível ultrapassar 500 ppm, a Terra ficará superaquecida, comprometendo a sequência da vida.
Corredor ecológico
Vinicius Rodrigues, coordenador de projetos da Fundação Biodiversitas, também foi convidado do Encontro da Amda. Ele contou a experiência da organização na criação do Corredor Ecológico Sossego-Caratinga (CESC), que conecta as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Mata do Sossego e Feliciano Miguel Abdala. O objetivo do corredor é a conservar o muriqui-do-norte; promover conectividade entre as RPPNs; conservar e recuperar as Áreas de Preservação Permanente (APPs); e desenvolver ações de educação ambiental na região.
Em agosto deste ano, o governo reconheceu o CESC como o primeiro corredor ecológico de Minas Gerais. Com 66.424 hectares, ele abrange os municípios de Caratinga, Simonésia, Manhuaçu, Ipanema, Santa Bárbara do Leste, Santa Rita de Minas e Piedade de Caratinga. O projeto Conexão, como foi batizado, recebeu patrocínio da Petrobrás a partir de outubro deste ano até 2016. A verba será destinada para a recuperação de, pelo menos, 120 hectares de APPs ao longo de cursos d’água; apoio técnico à regularização ambiental de, no mínimo, 20 propriedades; criação oficial do Comitê Gestor: Gestão participativa; capacitação de multiplicadores; implantar pelo menos dois projetos demonstrativos de sistemas agroflorestais (SAs); e fortalecimento da imagem do corredor ecológico na região, com sinalização e palestras nas comunidades. Para o coordenador, a educação ambiental é parte fundamental do projeto: “não adianta fazer quantos projetos forem, se você não investir na educação ambiental”.
Rodrigues também enfatizou a urgência de iniciativas de preservação diante do cenário atual. “Conservação não é para hoje, nem para amanhã. É para ontem”, concluiu.
Hotspots da biodiversidade
Luiz Paulo Pinto, mestre em ecologia, conservação e manejo de vida silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), abordou a situação e desafios dos hotposts brasileiros de biodiversidade: Cerrado e Mata Atlântica. Abrangendo aproximadamente 39% do território do país, os biomas possuem, juntos, 2.680 espécies ameaçadas de extinção. Mais de 70% dos vertebrados e mais de 80% da flora que correm risco de desaparecer no Brasil estão nestes biomas.
Já foram catalogadas 12.669 espécies no Cerrado, sendo 4.215 (33%) endêmicas. No caso da Mata Atlântica, foram registradas 19.355 espécies e, destas, 7.646 (40%) são endêmicas. Uma das maiores ameaças à Mata Atlântica é o desmatamento, ação que colocou Minas Gerais, por cinco anos consecutivos, no topo do ranking de destruição do bioma.
De acordo com um estudo da Forest Trends Report Series, divulgado em setembro deste ano, 71% de todo o desmatamento nas regiões tropicais do planeta, entre 2000 e 2012, foram causados por agricultura comercial e quase metade (49%) foi ilegal. Ainda segundo a pesquisa, Brasil e Indonésia contribuíram, juntos, com 75% da área desmatada ilegalmente nas regiões tropicais.
Abordando também as mudanças climáticas, Luiz Paulo disse que os dois biomas poderão ser bastante afetados, com aumento das temperaturas e diminuição das chuvas. Confira a entrevista com Luiz sobre o Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro.