Desmatamento na Amazônia influencia sistema climático brasileiro

O desmatamento influencia, diretamente, as chuvas que caem em todo o território brasileiro. É o que revela o relatório O Futuro Climático da Amazônia, que sintetizou mais de 200 estudos sobre o papel da Amazônia no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para as áreas produtivas do continente.
O desmatamento na Amazônia já derrubou 42 bilhões de árvores, ou seja, mais de 2 mil árvores por minuto, de forma ininterrupta, nos últimos 40 anos. Até ano passado, a destruição da Floresta Amazônica, em quatro décadas de análise, somou 762.979 quilômetros quadrados (km²), o que corresponde a três estados de São Paulo ou a 184 milhões de campos de futebol.
A retirada da cobertura vegetal interrompe o fluxo de umidade do solo para a atmosfera. Desta forma, os “rios voadores”, nome dado a grandes nuvens de umidade, responsáveis pelas chuvas, que são transportadas pelos ventos desde a Amazônia até o Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiros, não “seguem viagem”, causando a escassez hídrica. Nobre explica que a Amazônia regula o clima do continente graças à capacidade de transferir 20 trilhões de litros d’água por dia para a atmosfera. Segundo ele, a transpiração das árvores, combinada à condensação vigorosa na formação de nuvens de chuva, rebaixa a pressão atmosférica sobre a floresta. Com isso, ela “suga” o ar úmido do oceano para o continente, mantendo as chuvas em qualquer circunstância.
“Isso explica por que não temos desertos nem furacões a leste dos Andes. Pelo menos até agora, porque se continuarmos derrubando a floresta, o fluxo se inverterá: o oceano é que sugará a umidade da Amazônia. Assim, poderemos ter no continente um cenário semelhante ao da Austrália, com grandes desertos e uma franja úmida próxima do mar”, disse o coordenador do relatório, Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Uma das soluções apresentadas no relatório para evitar a descontinuidade no fluxo de umidade e, desta forma, reduzir o agravamento da seca no Brasil, é zerar o desmatamento na Amazônia. No entanto, isso parece longe de acontecer. Levantamento apresentado este mês pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontou aumento de 191% no desmate da floresta em agosto e setembro de 2014, em relação ao mesmo bimestre de 2013.
A bióloga da Amda Flávia Soares alerta que, assim como o desmatamento na Amazônia influencia negativamente o clima em todo o continente, toda floresta exerce este papel localmente e, por isso, é necessário também considerar a influência de outros remanescentes florestais. “Isto fica claro quando observamos a seca que vem piorando a cada dia, em Minas Gerais, por exemplo, estado campeão de desmatamento no país por cinco anos consecutivos. A absorção de água pelo solo e consequente abastecimento de lençóis freáticos é outro fator bastante importante que está relacionado à cobertura vegetal, comenta.