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Desmatamento na Amazônia influencia sistema climático brasileiro

Desmatamento na Amazônia influencia sistema climático brasileiro
Imagem de 14 de outubro deste ano mostra árvore solitária em área devastada pelo desmatamento ilegal na floresta amazônica

O desmatamento influencia, diretamente, as chuvas que caem em todo o território brasileiro. É o que revela o relatório O Futuro Climático da Amazônia, que sintetizou mais de 200 estudos sobre o papel da Amazônia no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para as áreas produtivas do continente.

O desmatamento na Amazônia já derrubou 42 bilhões de árvores, ou seja, mais de 2 mil árvores por minuto, de forma ininterrupta, nos últimos 40 anos. Até ano passado, a destruição da Floresta Amazônica, em quatro décadas de análise, somou 762.979 quilômetros quadrados (km²), o que corresponde a três estados de São Paulo ou a 184 milhões de campos de futebol.

A retirada da cobertura vegetal interrompe o fluxo de umidade do solo para a atmosfera. Desta forma, os “rios voadores”, nome dado a grandes nuvens de umidade, responsáveis pelas chuvas, que são transportadas pelos ventos desde a Amazônia até o Centro-Oeste, Sul e Sudeste brasileiros, não “seguem viagem”, causando a escassez hídrica. Nobre explica que a Amazônia regula o clima do continente graças à capacidade de transferir 20 trilhões de litros d’água por dia para a atmosfera. Segundo ele, a transpiração das árvores, combinada à condensação vigorosa na formação de nuvens de chuva, rebaixa a pressão atmosférica sobre a floresta. Com isso, ela “suga” o ar úmido do oceano para o continente, mantendo as chuvas em qualquer circunstância.

“Isso explica por que não temos desertos nem furacões a leste dos Andes. Pelo menos até agora, porque se continuarmos derrubando a floresta, o fluxo se inverterá: o oceano é que sugará a umidade da Amazônia. Assim, poderemos ter no continente um cenário semelhante ao da Austrália, com grandes desertos e uma franja úmida próxima do mar”, disse o coordenador do relatório, Antonio Donato Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Uma das soluções apresentadas no relatório para evitar a descontinuidade no fluxo de umidade e, desta forma, reduzir o agravamento da seca no Brasil, é zerar o desmatamento na Amazônia. No entanto, isso parece longe de acontecer. Levantamento apresentado este mês pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontou aumento de 191% no desmate da floresta em agosto e setembro de 2014, em relação ao mesmo bimestre de 2013.

A bióloga da Amda Flávia Soares alerta que, assim como o desmatamento na Amazônia influencia negativamente o clima em todo o continente, toda floresta exerce este papel localmente e, por isso, é necessário também considerar a influência de outros remanescentes florestais. “Isto fica claro quando observamos a seca que vem piorando a cada dia, em Minas Gerais, por exemplo, estado campeão de desmatamento no país por cinco anos consecutivos. A absorção de água pelo solo e consequente abastecimento de lençóis freáticos é outro fator bastante importante que está relacionado à cobertura vegetal, comenta.