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“Precisamos sair da inércia ambiental”

“Precisamos sair da inércia ambiental”
Mauro da Costa Val durante a primeira Terça Ambiental de 2014 / Crédito: Amda

“Nós causamos impacto ambiental”. Esse foi o recado deixado por Alexandre Magrineli, advogado especialista em meio ambiente, na Terça Ambiental, ocorrida nesta terça-feira (27). Magrineli abordou a economia de compartilhamento, prática cada vez mais presente em países ao redor do mundo e que dá seus primeiros passos no Brasil.

A economia do compartilhamento, ou sharing economy, é a prática de trocar objetos ou compartilhar serviços entre indivíduos próximos ou desconhecidos via web, focada na utilização mais inteligente dos recursos e evitando, consequentemente, mais impactos ao meio ambiente.

De acordo com Magrineli, a teoria envolve a reflexão sobre a necessidade do cidadão possuir o bem ou utilizar o serviço. “Você precisa da furadeira ou do buraco na parede?”, exemplificou. Dentro deste conceito está o consumo colaborativo. O advogado citou vários sites brasileiros desse gênero, como o do Instituto Alana, que disponibiliza um guia, materiais gráficos e tudo o que é necessário para qualquer cidadão promover, onde quiser, uma feira de troca de brinquedos; a Feira Grátis da Gratidão, um espaço onde as pessoas podem levar o que quiser para doar ou pegar aquilo que precisar; e o Caronetas, um espaço onde você informa o dia e seu trajeto e os interessados dividem as despesas com combustível.

Na contramão da economia compartilhada, Magrineli ressaltou o hiperconsumismo atual, aonde “ter” é mais importante do que o “ser” e a obsolescência programada é palavra de ordem. O advogado citou o Black Friday, ação de vendas importada dos Estados Unidos. No Brasil, o fenômeno está mais para propaganda enganosa: na quinta-feira, por exemplo, uma televisão custa R$ 1.500. Na sexta, com o Black Friday, o mesmo equipamento é anunciado de R$ 2.300 por R$ 1.500.

A fabricação de produtos envolve consumo de água, tema que tem alarmado ambientalistas e governantes com a atual crise hídrica do país. Diariamente, cada indivíduo utiliza 7.787 litros de água – número envolve alimentação, transporte, produção de roupas, calçados e higiene. “Se não discutirmos produção e consumo, ‘a vaca vai para o brejo'”, alertou Magrineli.

Além da crise da água, o advogado abordou também o desperdício de alimentos. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 1,3 bilhão de alimentos são desperdiçados por ano, causando a emissão de 3,3 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa e gerando um custo de 750 bilhões de dólares anualmente.

Segundo Magrineli, ao longo da história, diversos avisos foram dados sobre a capacidade do planeta. Um deles foi feito pelo Clube de Roma que, em 1972, já alertava que “as tendências de crescimento da população global e da atividade econômica não eram sustentáveis e levariam a um esgotamento dos limites físicos dos recursos do planeta.” O estudo sugeriu uma diminuição significativa das atividades produtivas em todo o mundo, com ênfase no corte da produção industrial.

Para o advogado, depois da Eco92, estamos indo “ladeira abaixo”. “Estamos vivendo um dos maiores retrocessos ambientais da história. O poder está nas mãos de todos, mas precisamos sair da inércia ambiental”, concluiu.