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Pesca industrial ameaça espécies em arquipélago de Fernando de Noronha

Há anos, a pesca industrial ameaça milhares de espécies e contribui significativamente para a extinção de animais. Recentemente, com a expansão do espinhel (aparelho de pesca) para a captura de atuns e tubarões e da permissão para entrada de barcos estrangeiros, a situação está ainda mais crítica. Este é o cenário da Área de Preservação Ambiental (APA) de Fernando de Noronha, Rocas e São Pedro e São Paulo. Atenta ao grave impacto ambiental, no início deste mês a Amda assinou, junto com quatro redes nacionais, incluindo o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Desenvolvimento Sustentável, e 32 instituições individuais, uma carta enviada à chefe da APA, Carina Tostes Abreu, solicitando urgente proibição total e permanente da pesca industrial no interior da unidade de conservação.

No documento, as entidades apontam que a pesca na APA é profundamente preocupante e destrói sistematicamente as populações de elasmobrânquios, em especial de tubarões, para abastecer o famigerado mercado de barbatanas. Em 1999, a UC já era considerada prioritária para a conservação de elasmobrânquios no Brasil.

Recente trabalho de Osmar J. Luiz, do Departamento de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas, e de Alasdair J. Edwards, da escola de Biologia da Universidade Newcastle, no Reino Unido, sobre a virtual extinção do tubarão-de-Galápagos na APA concluiu que “Em menos de quatro décadas, a pesca comercial no Arquipélago de São Pedro e São Paulo conseguiu levar à extinção uma espécie que era extremamente abundante durante quase dois séculos.” Já os tubarões-martelo brasileiros declinaram verticalmente nos últimos dez anos, acompanhando a avaliação global de que mais de 90% dos exemplares desses animais já foram capturados, levando-os à beira da extinção.

A pesca industrial atinge também outros animais e o ecossistema da região. “Os grandes peixes pelágicos, em especial os tubarões, são predadores essenciais à saúde do ecossistema marinho como um todo. Seu desaparecimento pode causar reações em cadeia que deterioram os sistemas marinhos do conjunto Rocas – São Pedro e São Paulo – Fernando de Noronha. Além disso, essa pesca mata tartarugas-marinhas, já ameaçadas de extinção, e aves. O espinhel pelágico é um desastre ambiental que deveria ser proibido em todas as unidades de conservação e ampla área de seu entorno”, explicou José Truda Palazzo, da Rede Marinho-Costeira e Hídrica do Brasil, entidade que também assinou a carta.

“Infelizmente, a falta de fiscalização e monitoramento dos desembarques pesqueiros impede que se conheça o tamanho efetivo desse desastre no Brasil. Acredito que essa falta de dados de parte do Ministério da Pesca seja proposital, para encobrir o crime que é essa pesca industrial sem controle em todo o país”, afirmou Truda. Para ele, a atividade dentro de uma unidade de conservação federal sem qualquer manejo, limite, fiscalização ou controle é um impacto ambiental intolerável e incompatível com a boa gestão da unidade. “Para nós deveria ser enquadrada na Lei dos Crimes Ambientais”, pontuou.

A chefe da APA disse que o tema será considerado nas próximas semanas, durante a revisão do Plano de Manejo da unidade.

Confira a entrevista completa com Truda.