Notícias

Sistema Cantareira pode entrar em colapso em julho

Sistema Cantareira pode entrar em colapso em julho
Cantareira / Crédito: BBC/Reuters

O sistema Cantareira pode entrar em colapso já no mês de julho, segundo relatório do Grupo Técnico de Assessoramento para Gestão (Gtag), criado para acompanhar a crise. A situação atual é a pior desde que o sistema foi criado, na década de 1970. Cantareira é o maior reservatório de água de São Paulo e abastece quase 9 milhões de pessoas na região metropolitana e nas regiões de Piracicaba e Campinas.

Na época da pior seca de São Paulo, no início dos anos 50 (1952/53), a vazão registrada foi 26,53 metros cúbicos por segundo. De outubro a março a vazão registrada era de 16,4 metros cúbicos por segundo. Ontem (03), o sistema registrou a menor marca de sua história, com 13,2%% da capacidade total.

Se houver colapso, será preciso usar o chamado “volume morto” de água, que necessita de bombeamento para ser captado. O Gtag liberou o aumento da vazão no sistema Cantareira, que hoje alcança pouco menos do que 25 mil litros de água por segundo.

O governo de São Paulo já sugeriu a captação de parte das vazões do rio Paraíba do Sul para recuperação dos níveis normais das represas que formam o sistema Cantareira. O diretor presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, defende a solução. “A ANA está fazendo um esforço para colocar à mesa São Paulo e Rio de Janeiro para fazer essa discussão e buscar uma solução integrada. A discussão, no começo, me pareceu que tinha mais a ver com voto do que a ver com água. Estamos vivendo um problema que está inserido dentro de um quadro político-eleitoral”, disse Guillo.

Enquanto as negociações acontecem, o governo de São Paulo adotou algumas medidas emergenciais, como a concessão de bônus aos consumidores que economizarem energia elétrica. Segundo dados da Secretaria de Recursos Hídricos do estado, a campanha fez com que 76% dos consumidores paulistas reduzissem o consumo.

Racionamento já

Especialistas constataram que não há solução de curto prazo para o risco de colapso no abastecimento de água em São Paulo. Para eles, o racionamento não é apenas uma possibilidade real, como também, se aplicada de forma gradual desde já, poderia evitar problemas mais sérios no final do ano – a exemplo do que aconteceu em 2002, quando o governo se viu forçado a decretar duras medidas para reduzir o consumo.

De acordo com dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste – responsáveis pela geração de 70% da energia consumida no país – estão com 36% da capacidade máxima. O órgão admitiu que, se não chegarem a 43% no final de abril, o resto do ano será complicado.

Termelétricas

Com os reservatórios das hidrelétricas baixos e o sistema elétrico operando no limite, o governo vem sendo forçado a usar com mais frequência as termelétricas, mais caras e poluentes. Atualmente, mais de 17.500 dos 21.670 megawatts disponíveis nas termelétricas estão em operação. De acordo com Ildo Luís Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), o custo da energia proveniente das usinas hidrelétricas e eólicas é de cerca de 100 reais por megawatt-hora (MWh). Já nas termelétricas, o valor ultrapassa os 800 reais por MWh.

“Isso gera um elevado custo para o país. São bilhões de reais sendo gastos em combustíveis, como óleo diesel e gás natural importado, num momento de estresse no mercado mundial. Além disso, há o problema das emissões ambientais elevadas por causa da queima desses combustíveis. O alto custo esvazia recursos do Tesouro Nacional que deveriam ser destinados a outras prioridades”, disse Sauer.