Acidificação dos oceanos põe vida marinha em risco
Quase um terço do dióxido de carbono emitido no planeta atualmente é absorvido pelos oceanos. Apesar de diminuir o aquecimento global, esse fenômeno altera a química da água marinha: o CO2 reage na água e forma ácido carbônico, resultando em uma acidificação gradual dos oceanos. Esta, por sua vez, prejudica a vida marinha.
Estudos recentes sugerem que a água do mar já estaria 26% mais ácida do que antes do início da industrialização. Até 2100, os oceanos poderiam estar 170% mais ácidos. Nos últimos vinte anos, diversos experimentos foram realizados em laboratórios ao redor do mundo para tentar descobrir exatamente quais seriam as consequências da mudança de pH (potencial hidrogeniônico) para a vida marinha.
Ulf Riebesell, do Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica da Universidade de Kiel (norte da Alemanha) iniciou em 2010 as primeiras pesquisas no mar sobre o fenômeno, na ilha de Spitzbergen, no Ártico. Enormes cápsulas colocadas no mar simulam as condições que provavelmente deverão predominar nos oceanos durante os próximos vinte anos, dependendo do nível das emissões de CO2. Esse e outros experimentos indicam que a crescente acidificação dificulta a vida dos organismos produtores de cálcio, como os que formam os recifes de coral.
“A acidificação põe em risco corais, conchas, caracóis, ouriços e estrelas-do-mar, além de peixes e outros organismos. Algumas das espécies produtoras de cálcio não poderão mais concorrer para sobreviver nos oceanos do futuro. A composição das espécies irá mudar radicalmente”, afirmou Riebesell. Segundo ele, quanto mais ácidos os oceanos se tornam, menos capacitados ficam para estabilizar o pH.
Os recifes de corais, de grande valor econômico e ecológico, são particularmente vulneráveis. Eles são importantes não apenas pela diversidade de espécies %u2013 e, em muitos países, pelo turismo %u2013 mas também porque servem como barreiras que protegem os litorais de ondas e tempestades.
As regiões polares, conforme reportagem do portal Terra, também deverão ser afetadas, uma vez que a água gelada absorve ainda mais CO2. Experimentos no Ártico indicam que a água do mar nessas regiões pode se tornar corrosiva já nas próximas décadas. “Isso significa que a água pode se tornar tão ácida a ponto de simplesmente dissolver conchas e esqueletos dos organismos produtores de cálcio”, alertou Riebesell.
Para os cientistas, é imprescindível a redução das emissões de CO2. Sem isso, “todo o resto é inútil”, constata Riebesell.