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Análises da Embrapa apontam contaminação das águas do rio São Francisco por resíduos químicos e biológicos
As pesquisadoras Alessandra Monteiro Salviano Mendes e Paula Tereza de Souza e Silva, da Embrapa Semiárido, alertam que as águas do rio São Francisco, que banha quatro municípios baianos – Sobradinho, Sento Sé, Remanso e Casa Nova – localizados à borda do lago formado pela Barragem de Sobradinho, apresentam indícios de contaminação por resíduos químicos e biológicos. Amostras coletadas em 27 pontos e em períodos de maior e menor cota do lago apontaram a presença de metais pesados, coliformes fecais e substâncias químicas que já se misturaram à água do rio em proporções acima da permitida pela legislação brasileira.
Conforme informações divulgadas pela Embrapa, 99% das amostras de água coletadas em áreas rurais ribeirinhas nos municípios de Sobradinho, Casa Nova, Sento Sé e Remanso apresentaram altas concentrações de coliformes fecais. A contaminação detectada decorria a presença de estercos de animais. Nesses locais, as águas são impróprias para o consumo humano. Segundo a portaria n°2.914 de 2011 do Ministério da Saúde, uma água para consumo humano deve estar ausente de coliformes fecais. Entre os quatro pontos de coleta do município de Remanso, em apenas um lugar, identificado como Salgadinho, a água estava apropriada para uso dos agricultores e suas famílias.
Análises das amostras também identificaram teores totais de metais pesados – ferro (Fe) e cádmio (Cd) – superiores aos que são permitidos por lei. Segundo as pesquisadoras, o aumento da concentração desses elementos na época de cheia do rio pode estar relacionado, entre outros fatores, “com o carreamento do solo pela erosão para dentro do lago no período de chuva e com o avanço das áreas agrícolas para o lago, na época de menor cota”.
O níquel (Ni) e o cromo (Cr) também foram constatados em elevadas quantidades em pelo menos um ponto de coleta. Para elas, a presença de metais pesados na água que conhecidamente estão presentes em alguns fertilizantes e agrotóxicos normalmente utilizados na atividade agrícola da região são indicativo da influência dessa atividade na qualidade da água do Lago de Sobradinho.
Outras substâncias, como o acefato, metalaxil, oxyfluorfen, pendimetalina e carbendazim foram detectados em 90% das amostras, indicando o potencial de contaminação da água do lago por agrotóxicos que são bastante utilizados nos cultivos de cebola, de acordo com as pesquisadoras.
Rebert Coelho Correia, pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador do projeto que analisa a qualidade da água da região, explica que embora os dados ainda não sejam definitivos, eles apontam uma situação preocupante e conseguem dar uma noção da gravidade da realidade atual e dos riscos que representa sua evolução se mantido o atual modelo de agricultura praticado na região. “Nós vamos buscar as prefeituras, que são parceiras na execução do projeto, e a sociedade desses municípios para discutirmos o problema que o estudo das pesquisadoras aponta. Precisamos alterar essa situação, com rapidez”, afirmou.