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Uma cidade e seus dilemas

Conceição do Mato Dentro, cidade localizada a 167 km de Belo Horizonte, vive o dilema entre a preservação ambiental e a atividade mineradora. A preocupação dos moradores se justifica, pois a cidade está na Serra do Espinhaço e em meio a dois biomas: Mata Atlântica e Cerrado.

Matéria deste domingo do jornal "Estado de Minas" conta a situação do pequeno município de 18.534 habitantes que, recentemente, se tornou o alvo do grupo inglês Anglo Ferrous. A empresa assumiu as atividades na região após comprar o negócio que estava nas mãos da MMX – empresa do bilionário Eike Batista. A mineração promete engordar o caixa do município por meio do aumento da arrecadação de impostos e do pagamento de royalties em mais de R$ 30 milhões ao ano.

Os moradores, no entanto, temem pelos impactos ambientais e de outros problemas decorrentes do aumento populacional na região. "Só a RG (construtora) teria trazido 400 homens. Já são 20 prestadoras de serviço na cidade", disse o vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Conceição do Mato Dentro, José Antônio Pimenta Filho, após reconhecer que os investimentos são importantes para o município.

Já diretor de operações da mineradora, Carlos Gonzáles, garante que são apenas 800 pessoas contratadas pelas empresas prestadoras de serviço. Além disso, disse ele, há cerca de 50 funcionários diretos da própria Anglo Ferrous. "A empresa não vai implantar em Conceição um projeto que não seja sustentável porque não vou aceitar. Eu sou o dono do projeto. Conceição não será como Itabira", afirmou.

Cidade não tem projetos de infraestrutura

"Até agora, não há projetos de infraestrutura para preparar Conceição do Mato Dentro para o crescimento que já começou a chegar", disse a prefeita interina do município – a vereadora e presidente da Câmara, Nelma Lúcia Cirino de Carvalho.

A vereadora ocupa o cargo depois do afastamento do prefeito reeleito em 2008, Breno José de Araújo Costa. O mesmo aconteceu na eleição seguinte, quando o filho do prefeito, Breno Filho, foi afastado.

Terra sem lei

A especulação imobiliária rural no município ganhou contornos irracionais, chegando ao conflito armado.
De acordo com diário, o preço dos terrenos tem sido decidido na bala.Os pequenos proprietários de terra reclamam que estão sendo pressionados e acuados para vendê-las. Recentemente, até uma barricada armada teria sido levantada por um morador.

De acordo com o técnico em agropecuária Aécio Lopes Vieira, um dos moradores de Água Santa, comunidade localizada ao pé da Serra da Ferrugem, montou, há três anos, uma barricada para impedir a passagem dos carros da Anglo na propriedade onde vivia com a mãe, de 91 anos.

A empresa teria "dado o troco proibindo-o de usar uma trilha habitual que cortava caminho para um distrito vizinho, também usando homens armados. Felizmente, nenhum tiro foi disparado". "Antes da mineração, o hectare custava entre R$ 500 a R$ 1 mil. Hoje, a Anglo colocou o preço da área que é prioridade para ela entre R$ 12 mil e R$ 15 mil", diz Aécio Vieira


*Com informações do Estado de Minas