Opinião

A humanidade nunca viu tanta concentração de CO2 na atmosfera

* José Eustáquio Diniz Alves

Pelo Acordo de Paris as emissões de gases de efeito estufa (GEE) deveriam diminuir, mas, ao contrário, o mundo continua emitindo grande quantidade de GEE.

“Estamos na autoestrada rumo ao inferno climático e com o pé no acelerador” – António Guterres, 2022.

A concentração de CO2 continua aumentando. Houve aumento de 1,79 partes por milhão em 2022. Mesmo com toda a discussão para evitar o inferno climático, os indicadores apontam para a continuidade do aquecimento global e a governança global não tem conseguido reverter a situação.

Acordo de Paris é um importante tratado internacional, firmado em 2015, com o objetivo de limitar o aquecimento global a menos de 2º Celsius acima dos níveis pré-industriais e de preferência a 1,5º Celsius. Para atingir esse objetivo, as metas do Acordo incluem a redução das emissões de gases de efeito estufa e a redução da concentração de CO2 na atmosfera.

Os países signatários do Acordo de Paris apresentaram suas próprias metas, chamadas de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), que estabelecem compromissos voluntários de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Essas metas variam entre os países e são atualizadas a cada cinco anos, com o objetivo de torná-las mais ambiciosas ao longo do tempo. Além das metas de redução de emissões, o Acordo também estabelece a necessidade de remover CO2 da atmosfera, por meio de práticas de reflorestamento, uso de tecnologias de captura e armazenamento de carbono, entre outras medidas.

Contudo, passados 7 anos desde a assinatura do Acordo de Paris, as emissões de carbono continuam aumentando e, consequentemente, estão elevando a concentração de CO2 na atmosfera. As emissões globais de CO2 eram de 6 bilhões de toneladas em 1950, passaram para 25 bilhões no ano 2000, atingiram 35,6 bilhões de toneladas em 2015 e alcançaram 37,5 bilhões de toneladas em 2022.

A reta de tendência anual da concentração de CO2 estava em 316 partes por milhão (ppm) em 1958, chegou a 401 ppm em 2015 e saltou para 420 ppm em 2022. O nível minimamente seguro, para evitar um colapso climático de grandes proporções, é de 350 ppm.

No entanto, a curva de Keeling só aumenta, conforme mostra o gráfico abaixo com dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos Estados Unidos.

O gráfico abaixo, também da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), mostra a taxa anual de crescimento de CO2 na atmosfera e a média decenal.

Nota-se que nos anos 60 (1960-69) a média anual estava em 0,86 ppm, subiu para 1,29 ppm nos anos 70, subiu novamente para 1,61 ppm nos anos 80, caiu para 1,51 ppm nos anos 90, voltou a subir para 1,97 ppm na primeira década do século XXI e atingiu o nível mais alto entre 2010-19, com aumento anual médio de 2,43 ppm.

O ano de 2016 bateu o recorde de aumento com 3,03 ppm. A média do triênio 2020-22 (2,15 ppm) teve um valor mais baixo do que na década anterior devido a redução do crescimento econômico em decorrência da pandemia da covid-19 e também pelo efeito do fenômeno La Niña.

A concentração de CO2 na atmosfera está chegando ao nível equivalente ao que existia há 10 milhões de anos e continua crescendo de maneira sem precedentes. Os primeiros hominídeos, ou seja, os membros da família humana, surgiram há cerca de 7 a 6 milhões de anos, durante o final do período Mioceno, na África.

Esses primeiros hominídeos eram bípedes, ou seja, caminhavam em duas pernas, mas ainda possuíam características semelhantes aos chimpanzés, como cérebros pequenos e braços longos.

Ao longo dos milhões de anos seguintes, os hominídeos evoluíram e se diversificaram, dando origem ao Homo sapiens, que surgiu há cerca de 200 mil anos. Portanto, nem o Homo Sapiens e nem os hominídeos conheceram uma concentração tão alta de CO2 na atmosfera.

Portanto, a civilização está percorrendo uma rota perigosa. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu para o fato de termos 9 anos seguidos (2014 a 2022) de recordes de temperatura. O efeito estufa trará custos enormes e as sociedades podem não estar preparadas para pagar o alto preço de limpar no futuro a sujeira feita no passado e no presente.

Pelo Acordo de Paris as emissões de gases de efeito estufa (GEE) deveriam diminuir, mas, ao contrário, o mundo continua emitindo grande quantidade de GEE.

Assim, o mundo pode caminhar para uma situação de “Terra Estufa” e várias partes do Planeta podem ficar inabitáveis.

*José Eustáquio Diniz Alves é possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (1980), mestrado em Economia (1983), doutorado em Demografia pelo CEDEPLAR-UFMG (1994) e pós-doutorado pelo Nepo/Unicamp.

Fonte: Eco Debate