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Opinião

Brasil vai gerar 100 milhões de toneladas de resíduos em 2030

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* Mara Gama

A geração de resíduos vai triplicar em países pobres e chegará a 3,4 bilhões de toneladas por ano em todo o mundo em 2050. Em 2016, o total anual era de 2 bilhões de toneladas. O Brasil, que é o maior gerador da América Latina e produz 40% de todo o lixo da região, deve saltar, em 8 anos, de cerca de 82,5 milhões toneladas ao ano para 100 milhões de toneladas/ano já em 2030.

Hoje, a coleta de lixo no país deixa de fora ao menos 7,8% dos resíduos, ou 6,4 milhões de toneladas por ano. O volume desse lixo não coletado seria suficiente para preencher 3 mil piscinas olímpicas.

Além disso, 40% dos resíduos coletados no território brasileiro são enviados a aterros que não são ambientalmente certificados e seguros ou lixões. Esse volume é de 30,3 milhões de toneladas por ano.

Somada aos problemas ambientais cumulativos e difusos, menos simples de contabilizar, a disposição inadequada do lixo afeta a saúde de 77,5 milhões de pessoas no país. Sem contar que milhões de toneladas de materiais reutilizáveis, recicláveis e recuperáveis são desperdiçados e, no ambiente, tornam-se agentes poluentes.

Os dados, as comparações e estimativas estão no estudo O “Futuro do Setor de Gestão de Resíduos”, elaborado pela ISWA (International Solid Waste Association), que analisa dados e aponta tendências de mercado, e da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

De acordo com o estudo, os dados atuais já mostram, no mundo todo, a urgência de universalizar coleta e tratamento do material coletado, eliminar lixões e interromper a queima de resíduos.

Com o aumento da geração, os problemas se agravam. Nos próximos anos, será necessário ampliar a capacidade de coleta e tratamento atual, pesquisa e desenvolvimento de novas formas de logística e tecnologia, melhorar a governança e a transparência dos sistemas e instituir financiamentos baseado em taxas (e não em impostos).

Um dos princípios defendidos pela análise é o do poluidor-pagador, isto é, quem produz mais lixo paga mais pelo serviço.
Apesar de as emissões diretas de GEE da gestão de resíduos sólidos contribuírem com cerca de 2% a 3% do total das emissões globais, o estudo diz que o setor pode contribuir para mitigar as mudanças climáticas.

Entre as soluções, o tratamento dos resíduos orgânicos com uso de digestão anaeróbica (DA), usinas de compostagem e captura de metano em aterros sanitários.

O estudo vislumbra que, nos próximos dez anos, a indústria de resíduos sofrerá grandes transformações. Tecnologias de segurança e rastreamento de resíduos serão mais usadas, as estações de transbordo ficarão mais automatizadas e controladas remotamente, e será mais intensivo o uso de veículos elétricos.

No panorama geral, seriam mais valorizados os materiais recicláveis e reciclados, por causa de melhorias nas triagens mecânica e química.
Numa perspectiva positiva, a melhor gestão de resíduos poderia melhorar a proteção da natureza, da saúde e da qualidade de vida das populações e gerar mais emprego e renda nas cidades e regiões que tenham desenvolvido aplicações úteis para matérias recuperados.

A reincorporação de resíduos orgânicos no ciclo produtivo poderia fornecer matérias-primas secundárias, nutrientes e materiais para melhoria da qualidade do solo, produzir energia e combustíveis verdes e renováveis.

*Mara Gama é jornalista independente e curadora de design.

Fonte: Ecoa Uol