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Opinião

Terra estufa e a alta temperatura em julho de 2022

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*José Eustáquio Diniz Alves

O mês de julho de 2022 foi um dos seis julhos mais quentes já registrados, acima da média do século XX, em 143 anos. Os cinco julhos mais quentes já registrados ocorreram todos após 2016, conforme mostrado no gráfico abaixo, da NASA. De fato, é uma péssima notícia, pois não se esperava uma temperatura tão alta em um ano marcado pela presença do fenômeno natural La Niña.

Não resta dúvida de que a crise climática é uma ameaça que precisa ser levada a sério. A Organização Mundial de Meteorologia prevê que a marca de aquecimento de 1,5º C deverá ser superada até 2025, agravando os sinais da emergência climática.

Quanto mais rápido aumenta a temperatura do Planeta, maior é a probabilidade de amplas áreas da Terra ficarem inabitáveis. O aumento das atividades antrópicas eleva os riscos da degradação dos ecossistemas, prejudicando a vida em toda a sua biodiversidade.

O mês de julho foi marcado por grandes desastres climáticos no mundo, como queimadas na Europa e nos EUA, enchentes nos EUA, China, Brasil e Seul da Coreia do Sul. Recordes de temperatura no Canadá, com os termômetros marcando 49,5º C e a morte de 134 pessoas em Vancouver em decorrência da onda letal de calor. As secas estão afetando a produção agrícola e a navegabilidade dos rios na Europa e em outras partes do mundo.

Os registros se multiplicam. Segundo relatório do Escritório da ONU para Redução de Riscos de Desastres (UNDRR), foram registrados cerca de 100 desastres médios e grandes na década de 1970, passando para algo entre 350 e 500 atualmente, com custos de 170 bilhões de dólares em média por ano. Nas projeções do relatório, os desastres podem aumentar para 560 por ano até 2030, ou seja, cerca de 1,5 por dia. Além dos danos econômicos são milhões de vítimas todos os anos. O mundo está ficando perigoso e hostil.

O mais novo livro “Hothouse Earth: An Inhabitant’s Guide”, do professor de ciências da Terra da University College London, Bill McGuire argumenta que, depois de anos ignorando os avisos dos cientistas, é tarde demais para evitar os impactos catastróficos das mudanças climáticas. Ele diz que já é um mundo diferente lá fora e em breve será irreconhecível para todos nós, pois o colapso total do clima se tornou inevitável. Muitos cientistas climáticos, disse ele, estão mais assustados com o futuro do que estão dispostos a admitir em público.

McGuire chama a relutância da maioria dos cientistas em participar de ações civis contra os promotores da crise climática de “apaziguamento climático” e diz que isso só piora as coisas. Por isto é tão importante a participação de ativistas como Greta Thunberg, que no Fórum Econômico de Davos, em 21/01/2020, disse: “Nossa casa ainda está pegando fogo. Sua inação está alimentando as chamas a cada hora. Ainda estamos dizendo para vocês entrarem em pânico e agir como se vocês amassem seus filhos acima de tudo”.

Assim, ondas de calor como as vistas em julho de 2022, as inundações letais e os eventos climáticos extremos são apenas o começo da crise climática.

Segundo McGuire, a mudança climática severa é agora inevitável e irreversível. Evidentemente, é preciso agir para tentar impedir que as condições materiais se deteriorem ainda mais e também há necessidade de tomar medidas para a adaptação climática.

Por exemplo, a extensão do gelo marinho da Antártida tem atingido os menores valores em 2022 e o degelo em junho e julho foram recordes históricos, como mostra a figura abaixo. Quanto maior for o degelo maior será a elevação do nível dos oceanos, o que ameaça mais de 1 bilhão de pessoas que moram em áreas costeiras. No longo prazo, os efeitos do degelo dos polos, Groenlândia e glaciares tende a ser totalmente catastrófico se a temperatura ultrapassar em muito os 2º Celsius.

O fato é que quanto mais tempo ignoramos os avisos explícitos de que o aumento das emissões de carbono está aquecendo perigosamente a Terra, maior será o preço a pagar. E o que surpreende na tendência ao colapso climático é a velocidade com que a temperatura média global aumenta e se traduz em clima extremo. Porém, por mais sombrio que seja o cenário climático, isto não deve inibir as ações para mitigar o aquecimento global para impedir que um futuro angustiante se torne ainda mais verdadeiramente cataclísmico.

*José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia.

Fonte: Eco Debate