Opinião

Agir é urgente e o tempo não está a nosso favor

*Giselli Cavalcanti

Já se foi metade da COP26 e o ritmo lento é inimigo do avanço da agenda climática – uma análise da primeira semana da Conferência do Clima

A COP26 – vigésima sexta Conferência de Clima da ONU – acontece há mais de uma semana. Já se passaram mais de oito dias desde que chefes de estado, negociadores e representantes da sociedade civil de mais de 190 países chegaram a Glasgow, na Escócia, para o que deveria ser um momento decisivo para o avanço da agenda climática internacional.

Depois de mais de um ano de adiamento e de inércia na agenda climática, pelo cenário da pandemia da COVID-19, a COP26 estava rodeada de sentimentos mistos: por um lado os chamados urgentes para a ação reforçados pelo último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) trazia o receio de que esta poderia ser mais uma COP fadada ao fracasso de não dar conta dos encaminhamentos necessários para enfrentar a crise climática; por outro, para muitos esta tinha tudo para ser a COP das juventudes e dos povos indígenas. Pelo menos em relação a esta última parte, a expectativa parece estar, parcialmente, se cumprindo, visto que muitos indígenas e jovens brasileiros estão ganhando destaque na Conferência.

A participação da jovem ativista indígena Txai Suruí foi um ponto de partida simbólico de que este caminho estava sendo bem construído para os dias seguintes. Na linha do que já vinha sendo construído nos meses que antecederam a Conferência, fortaleceu-se a onda crescente de demandas das juventudes globais por justiça climática e para que as negociações levassem em consideração, de forma central, as pessoas e as desigualdades sociais criadas e/ou impulsionadas pela Crise Climática. Do Brasil, a COP26 recebe mais de 80 jovens vindos de diferentes organizações, regiões e trazendo diversas pautas para serem incluídas na agenda climática – dentre eles, chama a atenção, de forma positiva e gratificante, a forte representação de juventudes indígenas, periféricas e jovens negros, uma representação necessária e que, há muito tempo, já devia ser parte presente e corriqueira de espaços como este.

E não para por aí: a presença das juventudes fica também evidente fora dos setores da COP26. Nos dias 05 e 06 de novembro, as ruas de Glasgow foram tomadas por mais de 100 mil pessoas, especialmente jovens de vários países, clamando por justiça climática e cobrando o que já deveria ser clichê: não temos mais tempo para inércia, para pouca ambição e para acordos vazios, agir é urgente e o tempo não está a nosso favor. Do lado de dentro do espaço oficial da COP, entretanto, os lugares destinados às juventudes (e a sociedade civil no geral), na prática são separados por barreiras físicas e simbólicas que impedem uma relação mais próxima com os negociadores e, por consequência, uma incidência direta no curso das negociações.

Com metade da COP26 ainda à frente, muitas são as inquietações do que poderia (e deveria) ser feito para que consigamos os avanços concretos e necessários para barrar a crise climática. Por isso, as juventudes, a sociedade civil e os povos indígenas seguem, nos dias que virão, engajados para criar soluções acessíveis, democráticas e que coloquem as pessoas no centro do debate. Resta esperar para ver o quanto os negociadores e chefes de estado vão a favor ou contra este caminho.

*Giselli Cavalcanti é ativista climática, psicóloga ambiental e mobilizadora de campanhas na defesa de causas socioambientais.

Fonte: O Eco