Opinião

Cúpula de Ação Climática e os 5 anos do Acordo de Paris

*Por José Eustáquio Diniz Alves

“A distância entre o que precisamos fazer e o que realmente está sendo feito está aumentando a cada minuto. Ainda estamos acelerando na direção errada” – Greta Thunberg

O Acordo de Paris completou 5 anos no dia 12 de dezembro de 2020. Para comemorar a data e avançar nas propostas para controlar o aumento do aquecimento global a ONU organizou a Cúpula de Ação Climática buscando uma união entre os países que apresentaram propostas para intensificar as ações de mitigação climática. Cerca de 80 líderes globais participaram da Cúpula e ficaram de fora grandes emissores como Brasil, Estados Unidos, Austrália e Rússia que não apresentaram nada de novo ou, simplesmente, recuaram nas metas anteriores.

Diversos países atualizaram as suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) prometendo maior ambição no corte das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O Reino Unido (sede da próxima COP), que já havia anunciado a redução de suas emissões em 68% até 2030 em relação a 1990, disse que não mais financiará a produção de combustíveis fósseis no exterior. O Primeiro-ministro Boris Johnson se comprometeu com uma retomada verde da economia com maiores investimentos em energia renovável.

Desde a assinatura do Acordo de Paris, os 6 anos de 2015 a 2020 foram os mais quentes do Antropoceno. Se nada for feito a temperatura global superará em muito a meta de 2º C. até o final do século. Com Trump não sendo mais uma ameaça, há esperança no cumprimento das metas, mas apenas se os países cumprirem e avançarem em suas NDCs. Numa visão otimista, o Instituto Climate Action Tracker (CAT) calculou que o aquecimento global em 2100 pode ficar em 2,1º C., como resultado de todas as promessas líquidas zero anunciadas em novembro de 2020.

Nesta conta está o anúncio da China, feito em setembro de 2020, de que pretende atingir a neutralidade de carbono antes de 2060, o que reduziria a estimativa de aquecimento do final do século em 0,2 a 0,3º C. Assumir a neutralidade de carbono nos EUA até 2050, conforme proposto pelo presidente eleito Joe Biden, reduziria o aquecimento em mais 0,1º C. África do Sul, Japão, Coreia do Sul e Canadá também anunciaram recentemente metas líquidas de zero. No total, 127 países responsáveis por cerca de 63% das emissões estão considerando adotaram metas líquidas zero.

Contudo, metas zero líquidas não são suficientes e os governos devem adotar metas mais fortes até 2030. Somente assim seria possível fechar a lacuna de emissões remanescente para 1,5º C. Na América Latina, o Brasil é o maior poluidor e apresentou retrocesso nas metas voluntárias e em consequência o ministro brasileiro Ricardo Salles foi excluído da Cúpula de Ação Climática. Já a Colômbia e a Argentina mostraram avanços. Enquanto o presidente argentino Alberto Fernández anunciou que apresentará uma nova NDC com limites de emissão 25% menores para 2030, o colombiano Iván Duque prometeu 51% de redução absoluta de emissões em 2030 em relação a 2010.

Enquanto o mundo discute as ações climáticas, a década de 2011 a 2020 foi a mais quente desde o início das medições. O ano de 2020 está entre os dois mais quentes da série histórica. Segundo análise do Carbon Brief, o mundo provavelmente excederá 1,5º C. por volta de 2031 e excederá 2º C. por volta de 2052.

O aquecimento global é a maior ameaça existencial à humanidade. Assim como existe uma emergência de saúde pública (por conta do coronavírus), existe também uma emergência climática por conta do aumento da temperatura global. O mundo precisa aprender com o trauma da covid-19 e acordar para a urgência de se resolver os problemas ambientais do século XXI. Senão teremos uma “Terra inabitável” como mostrou o jornalista David Wallace-Wells. O alerta já está dado, ninguém poderá ser pego desprevenido e desinformado no futuro próximo.

O Secretário Geral da ONU, António Guterres, em seu discurso de abertura da Cúpula sobre o clima pediu aos líderes para declarar estado de “emergência climática” em seus países para fomentar ações e evitar um aquecimento global catastrófico: “Alguém ainda consegue negar que estamos enfrentando uma emergência dramática?”, questionou Guterres por vídeo. “É por isso que hoje eu peço que os líderes mundiais declarem um estado de emergência climática em seus países até que a neutralidade em carbono seja alcançada”.

José Eustáquio Diniz Alves é colunista do EcoDebate e doutor em demografia.
Fonte: EcoDebate