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Opinião

Estamos matando nossa Amazônia

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*Eugênio Ricas

A queda de um meteoro na divisa do Pará com o Amazonas, no dia 21/12, causou um desastre ambiental sem precedentes na história recente do Brasil. Calcula-se que a área atingida seja do tamanho de Brasília. Uma estimativa conservadora apontou que cerca de 43.700 árvores foram derrubadas no impacto. A fauna local foi completamente dizimada. Ainda não se tem ideia das consequências do desastre na vida humana nem, tampouco, quantas pessoas podem ter morrido no episódio.

Se você está se perguntando como não viu essa notícia nos jornais e está imaginando que pode se tratar de fake news, você está parcialmente certo. De fato, nenhum meteoro caiu no Brasil recentemente. As consequências apontadas, no entanto, ocorreram e, por incrível que possa parecer, foram causadas pela ação humana voluntária.

Um trabalho de investigação realizado pela Polícia Federal culminou com a deflagração da operação batizada Handroanthus GLO, que apreendeu mais de 131 mil metros cúbicos de madeira. O nome foi inspirado na denominação científica do Ipê (uma das árvores mais cobiçadas pelos madeireiros na Amazônia) acrescido do acrônimo GLO (garantia da lei e da ordem), que autoriza o emprego das Forças Armadas no combate a crimes ambientais na Amazônia.

O volume apreendido daria para construir cerca de 2600 casas populares. São 43.700 toras espalhadas numa área de cerca de 20.000km2 (tamanho aproximado do estado de Sergipe). A situação é gravíssima! A maior apreensão de madeira realizada até então ocorreu em 2010 e culminou com 65 mil metros cúbicos de toras retidas, metade do volume apreendido desta vez.

As investigações iniciaram em novembro, após a apreensão de uma balsa, com 3.000 metros cúbicos de madeira fruto de extração criminosa. A partir de então, após um criterioso trabalho de análise de imagens de satélite, policiais sobrevoaram a região identificando os pontos de interesse e localizando o produto do crime.

Se podemos, num exercício de otimismo exagerado, apontar algum ou alguns lados positivos nessa história toda, certamente seria o trabalho em conjunto realizado pela Polícia Federal, pelas Forças Armadas e por outros órgãos que têm se dedicado a tentar, de forma hercúlea, salvar nossas florestas do desmatamento criminoso. Além disso, a utilização de inteligência e tecnologia de ponta apontam para um caminho sem volta podendo, muito provavelmente, ser a maior arma contra as organizações criminosas que insistem em devastar uma área que é o maior patrimônio de nossa nação.

Infelizmente, no entanto, não temos o que comemorar. O desastre ambiental provocado pelo desmatamento irracional e desenfreado é gigantesco e levará décadas para ser reparado. Nossa flora e nossa fauna têm sido, literalmente, assassinadas por indivíduos que priorizam o dinheiro à vida. A repressão é fundamental, no entanto, se não nos conscientizarmos da importância de preservação do nosso bioma, deixaremos um legado de morte e devastação para as futuras gerações.

*Eugênio Ricas é Delegado Federal, Adido da PF nos EUA, Mestre em Gestão Pública pela UFES.