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Opinião

A 6ª extinção das espécies é na verdade o 1º evento de extermínio em massa

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*José Eustáquio Diniz Alves

O mundo já teve cinco extinções em massa das espécies terrestres, todas elas causadas por fenômenos naturais, como a queda do asteroide que provocou, além da morte de milhões de seres, a extinção dos magníficos dinossauros, há cerca de 66 milhões de anos.

Atualmente, a Terra está na iminência de uma nova extinção em massa – que seria a 6ª extinção – mas que na realidade é um evento único e novo, pois se trata de um extermínio de milhões de seres vivos, provocado pelas ações de uma espécie arrogante e egoísta que se arvora dona do mundo e que autodefiniu um status próprio de privilégio, estabelecendo que os direitos humanos estão acima dos direitos dos animais e dos direitos da natureza.

Pela primeira vez, nos 4,5 bilhões de anos da história do Planeta Azul, uma espécie que evoluiu na rica biodiversidade da Terra se apropria da herança natural para promover a riqueza da humanidade às custas do empobrecimento dos ecossistemas e da eliminação dos seres que durante milhões de anos compartilharam uma Casa Comum.

No início do Holoceno a humanidade respondia apenas por 0,1% da biomassa terrestre. Hoje em dia, os seres humanos e seus animais domesticados ocupam a maior parte do espaço terrestre. As áreas ecúmenas ocupam 97% da área global, deixando apenas 3% para a áreas anecúmenas. A civilização ainda tem a ousadia de estabelecer “jardins zoológicos” e “aquários”, que, na realidade, são prisões para a exposição dos animais selvagens, privados de liberdade e confinados para o deleite, a curiosidade, o sadismo e o voyeurismo humanos.

O Relatório Planeta Vivo (2018) divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), mostra que o avanço da produção e consumo da humanidade tem provocado uma degradação generalizada dos ecossistemas globais e gerado uma aniquilação da vida selvagem: as populações de vertebrados silvestres, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios, sofreram uma redução de 60% entre 1970 e 2014.

Confirmando o impacto devastador das atividades humanas sobre a natureza, a Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), da ONU, mostrou que há 1 milhão de espécies ameaçadas de extinção. O relatório elaborado nos últimos três anos, e divulgado em maio de 2019, fez uma avaliação do ecossistema mundial, com base na análise de 15 mil materiais de referência.

O documento afirma que, embora a Terra tenha sofrido sempre com as ações dos seres humanos ao longo da história, nos últimos 50 anos os arranhões se tornaram cicatrizes profundas. A população mundial dobrou desde 1970, a economia global quadruplicou e o comércio internacional está dez vezes maior. Para alimentar, vestir e fornecer energia a este mundo em expansão, florestas foram derrubadas num ritmo surpreendente, especialmente em áreas tropicais. Entre 1980 e 2000, 100 milhões de hectares de floresta tropical foram perdidos, principalmente por causa da pecuária na América do Sul e plantações de palmeira de dendê no sudeste da Ásia.

A situação dos pântanos é ainda pior – apenas 13% dos que existiam em 1700 estavam conservados no ano 2000. O aumento dos plásticos nos oceanos é de tal ordem que em um futuro próximo haverá mais plásticos do que peixes nos oceanos. Portanto, toda a ação humana está matando mais espécies do que nunca. Cerca de 25% dos animais e plantas se encontram agora ameaçados. A Revista científica Science (25/07/2014) fala em defaunação em larga escala.

As tendências globais em relação às populações de insetos ainda não são totalmente conhecidas, mas foram registrados declínios acelerados em algumas regiões. O desaparecimento das abelhas, por exemplo, é não só um crime de ecocídio, mas também uma ameaça à própria alimentação humana, que depende dos polinizadores para viabilizar montantes crescentes de comida para a população mundial. A biodiversidade da Terra está ameaçada. Como disse o famoso jornalista e ambientalista David Attenborough: “os humanos são uma praga na Terra”.

De fato, o ser humano – no Antropoceno – está promovendo uma matança de grandes proporções. O Tribunal Penal Internacional (TPI) decidiu, no final de 2016, reconhecer o ECOCÍDIO (destruição em larga escala do meio ambiente) como crime e um delito de escopo local e global que justifica criminalizar as agressões contra o meio ambiente. Portanto, o ser humano está provocando o 1º extermínio ecocida em massa. Acontece que o Ecocídio é também um suicídio, pois o ser humano não consegue viver sem a natureza e sem a riqueza dos ecossistemas e sem a estabilidade climática.

Como constatou Justin McBrien, em artigo no site Truthout (14/09/2019), as atrocidades que se desenrolam nos diversos biomas da Terra não tem nenhum análogo geológico e chamá-lo de “sexta extinção em massa” é fazer com que, aquilo que é uma erradicação ativa e organizada, pareça algum tipo de acidente passivo. Estudos que mostram o “apocalipse de insetos”, a “aniquilação biológica” ou o “holocausto biológico” confirmam a perda de 60% de todos os animais selvagens nos últimos 50 anos. A humanidade já ultrapassou diversas “fronteiras planetárias” e está promovendo uma “Grande Morte” no Planeta. Não se trata de uma erupção vulcânica de grandes proporções, a caída de um asteroide gigantesco ou a liberação lenta de oxigênio na atmosfera devido à fotossíntese das cianobactérias.

Ele diz: “O que acontece atualmente é o 1º Evento de Extermínio, que está levando a Terra à beira do NECROCENO, a era da nova morte necrótica”. O extermínio das espécies não humanas culminará e reverterá no extermínio dos próprios seres humanos.

*José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia

Fonte: EcoDebate