Opinião

Construção Sustentável

*Roberto Naime

O setor da construção civil tem papel fundamental para a realização dos objetivos de desenvolvimento sustentável. O Conselho Internacional da Construção (CIB) aponta a indústria da construção como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, o que gera consideráveis impactos ambientais.

Existem também os impactos associados à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. É estimado que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas sejam provenientes das atividades vinculadas com a construção civil. Estes aspectos ambientais, adicionados com a qualidade de vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam as relações entre construção e meio ambiente.

Para buscar minimizar os impactos ambientais provocados pela construção, se estabelece o paradigma da construção sustentável. Nas recomendações para a Construção Sustentável em Países em Desenvolvimento, ocorre conceituação de que a construção sustentável é “um processo holístico que busca a restauração e manutenção da harmonia entre os ambientes naturais e construídos, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica”.

No contexto do desenvolvimento sustentável, este conceito transcende a sustentabilidade ambiental, para envolver a sustentabilidade econômica e social, que enfatiza e evidencia o incremento de valor para a qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades.

Os desafios para o setor da construção são diversos. Consistem na redução e otimização da utilização de materiais e energia, e na redução dos resíduos gerados, na preservação do ambiente natural e na melhoria da qualidade do ambiente construído.

Para isto é necessária a mudança dos conceitos da arquitetura convencional na direção de projetos flexíveis, com possibilidade de readequação para futuras mudanças de uso e atendimento de novas necessidades, reduzindo as demolições. Também a busca de soluções que ampliem o uso racional de energia ou de energias renováveis;

E a realização de uma gestão ecológica da água e a redução do uso de materiais com alto impacto ambiental, com a redução na geração de resíduos de toda natureza na construção civil.

As tendências atuais em relação ao tema da construção sustentável caminham em duas direções. De um lado, centros de pesquisa em tecnologias alternativas pregam o resgate de materiais e tecnologias primitivas, com o uso da terra crua, da palha, da pedra, do bambu, entre outros materiais naturais e pouco processados a serem organizados em ecovilas e comunidades alternativas.

De outro lado, ocorre evidenciação de “empreendimentos verdes”, com as certificações, tanto no âmbito da edificação quanto no âmbito do urbano. Mas ainda muitos edifícios rotulados como verdes refletem apenas esforços para reduzir a energia incorporada e são, em muitos outros aspectos convencionais, tanto na aparência quanto nos processos construtivos.

Certificações em países pobres, sempre são contraditórias e provocam reflexões. Até que ponto fazem sentido para países como o Brasil, que ainda não resolveram seus problemas mais básicos como pobreza e desigualdade social.

Os governos municipais possuem grande potencial de atuação na temática das construções sustentáveis. As prefeituras podem induzir e fomentar boas práticas por meio da legislação urbanística e código de edificações, incentivos tributários e convênios com as concessionárias dos serviços públicos de água, esgotos e energia.

Para a implantação urbana, é recomendável a adaptação à geomorfologia local, com redução da movimentação de terra, preservação de espécies nativas, previsão de ruas e caminhos que privilegiem o pedestre e o ciclista e contemplem a acessibilidade universal, previsão de espaços de uso comum para integração da comunidade e usos do solo diversificados, minimizando os deslocamentos.

Na dimensão das edificações, é essencial a adequação do projeto ao clima do local, minimizando o consumo de energia e otimizando as condições de ventilação, iluminação e aquecimento naturais, e a previsão de requisitos de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, e a atenção para a orientação solar adequada e a utilização de coberturas verdes.

Quando da escolha dos materiais de construção deve ser privilegiada a utilização de materiais disponíveis no local, que sejam pouco processados, não tóxicos, potencialmente recicláveis e culturalmente aceitos. Devem ser materiais propícios para a autoconstrução e para a construção em regime de mutirões.

Além disso, devem se evitar sempre o uso de materiais químicos prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente, como amianto, formaldeído, policloreto de vinila (PVC), tratamento de madeira com substâncias tóxica. Quanto aos resíduos da construção civil, deve ser estimulada sua redução e disposição adequada, com promoção de reciclagem.

É recomendável usar energia eólica para bombeamento de água e de energia solar fotovoltaica, com possibilidade de se injetar o excedente na rede pública. Sobre águas, deve ser incentivada a coleta e utilização de águas pluviais, a utilização de dispositivos economizadores de água, o reuso de águas e o tratamento adequado de esgoto no local.

Nas áreas externas, é recomendável a valorização dos elementos naturais no tratamento paisagístico e o uso de espécies nativas. Também a destinação de espaços para produção de alimentos e compostagem de resíduos orgânicos e o uso de pavimentação permeável, para favorecer a infiltração.

A civilização vai acabar determinando nova autopoiese sistêmica, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio. Que é um sistema instável, muito frágil e vulnerável em todos os sentidos e vai impor uma metamorfose efetiva.

*Roberto Naime é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate