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Opinião

DiCaprio se junta a dois outros bilionários e cria aliança para combater mudanças climáticas

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*Amélia Gonzalez

Três multimilionários juntaram suas fortunas para criar uma ONG que terá como missão proteger o meio ambiente, combater as mudanças climáticas, livrar os animais da extinção e garantir os direitos dos indígenas na Terra.

Um deles é o premiado ator Leonardo DiCaprio, norte-americano que há muito vem se firmando como um defensor do meio ambiente. Em 1998, ele lançou uma Fundação que já concedeu mais de US$ 100 milhões para projetos ambientais nos cinco oceanos e sete continentes.

DiCaprio vem aproveitando bem seu bom prestígio com o público para mandar recados. Em 2007, lançou o documentário “A Última Hora”, focado na pegada ecológica de seus conterrâneos, onde alertava para o fato de que ainda haveria tempo de mudar o cenário para melhorar as condições climáticas.

Em 2016, fez outro filme, chamado “Before the Flood”, em que ouve vários cientistas, ambientalistas e líderes – entre eles o Papa Francisco e o ex-presidente Barack Obama – sobre as mudanças climáticas. Neste último, a mensagem do ator se torna menos otimista.

Antes disso, em 2014, DiCaprio fora nomeado pelas Nações Unidas como um “enviado sobre mudanças climáticas”, e não tem deixado passar oportunidade para lembrar às pessoas a verdade que muitos negacionistas ainda estão tentando desconstruir.

Com base nos estudos de cientistas do IPCC e de outros estudos, temos já pouco tempo, até 2030, para tentar reverter nosso modo de produção e consumo e evitar o aquecimento de mais de 1,5 grau até o fim do século.

Pois agora o ator/ativista/milionário se juntou a Laurene Powell Jobs, a viúva de Steve Jobs, e a Brian Sheth, presidente do fundo de private equity “Vista Equity Partners”, ambos filantropos, e está lançando o “Earth Alliance”, ainda sem data prevista para começar.

Será uma plataforma online onde haverá opiniões de especialistas de todo o mundo, com o objetivo de encontrar programas que possam combater os efeitos da poluição, a exploração ilimitada de recursos e o desmatamento. O mais importante: a organização se propõe a financiá-los.

No site da nova Aliança da Terra (tradução literal), ainda em construção, está o comunicado à imprensa divulgado semana passada, em que o ator contou que está feliz com a parceria que acaba de fazer em prol de um bem maior.

“Dados climáticos das últimas décadas mostraram aumentos acentuados de desastres, agravando a segurança alimentar para dezenas de milhões de pessoas, a rápida extinção de aumento do deslocamento da comunidade, acidificação dos oceanos e mortes humanas – causadas ou exacerbadas pela destruição do nosso mundo natural”, escreve DiCaprio no comunicado à imprensa.

A notícia da criação da nova organização é boa.

Fico pensando se mais celebridades pudessem usar seu dinheiro e visibilidade para ajudar em boas causas. Vou além, imaginando ainda como seria bom ter entre nós brasileiros, por exemplo, um jogador famoso por seu bom futebol que, em vez de ocupar as páginas com aventuras amorosas (algumas desastrosas), também tirasse parte de seu tempo e de seu dinheiro para se juntar a outros e criar uma organização como esta. Seria um exemplo magnífico a ser seguido pelos jovens.

Sim, estou falando de Neymar, mas de tantos outros que poderiam seguir o mesmo caminho.

Ainda sem saber sobre a criação da nova instituição em prol do meio ambiente e da melhor qualidade de vida de todos, estive com amigos no sábado à tarde e contei parte da história que vivi desde que comecei a editar o caderno “Razão Social”, que atualizava questões de responsabilidade social corporativa.

Era início do século, 2003, e vivíamos todos ainda com a certeza de que era possível juntar desenvolvimento com preservação do meio ambiente num mundo mais igualitário. Para isso, as empresas estavam sendo convocadas, e muitas responderam positivamente ao chamado.

A iniciativa de DiCaprio me fez lembrar desse tempo. Mais do que isso, me fez ter alguma esperança de que é possível voltarmos – agora já 11 anos depois da grande crise econômico financeira mundial que mudou o cenário e ajudou a estagnar o processo – a um caminho possível de ser trilhado, não só pelas empresas como por pessoas que podem reservar uma parte do que ganham para ajudar neste processo. Vai ser preciso, cada vez mais.

Em entrevista ao britânico “The Guardian”, a representante especial do secretário-geral da ONU, Mami Mizutori, alerta para o fato de que a adaptação da crise climática não pode mais ser vista como um problema a longo prazo. Ela precisa de investimento é agora.

As estimativas colocam o custo de desastres relacionados ao clima em US $ 520 bilhões por ano. Por outro lado, a estimativa para construções de infraestrutura resistente aos efeitos do aquecimento global de apenas 3%, ou US $ 2,7 trilhões no total nos próximos 20 anos.

“Isso não é muito dinheiro, no contexto dos gastos em infraestrutura, mas os investidores não estão fazendo o suficiente. A resiliência precisa se tornar uma mercadoria pela qual as pessoas vão pagar.”

Na prática, o que a especialista da ONU diz é que é preciso normatizar padrões para habitação, redes rodoviárias e ferroviárias, fábricas, redes de energia e abastecimento de água, a fim de que passem a ser menos vulneráveis aos efeitos de inundações, secas, tempestades e condições meteorológicas extremas.

Mas até agora o que tem sido gasto em questões de mudanças climáticas é em mitigação, o que quer dizer, baixar as emissões de gases poluentes. A ideia, tempos atrás, era de que daria tempo para começar a consertar desta forma os impactos da humanidade sobre o planeta. Mas, não, diz a ONU. É preciso partir para ações mais diretas (também), a fim de evitar, inclusive, mais perdas de vidas humanas.

Segundo uma pesquisa divulgada no início deste ano, a previsão é de que mais de 250 mil pessoas devem morrer até 2050 por causa das mudanças climáticas.

Neste sentido, de novo, é muito boa a iniciativa dos filantropos. E, também não custa lembrar, já está mais do que na hora de algumas grandes empresas, sobretudo dos setores que causam mais impactos, como mineração e agropecuária, voltarem à disposição que estavam demonstrando antes da crise. Afinal, como se sabe, hoje a balança do PIB mundial já está mais pesada (52%) para o lado corporativo do que para o lado das nações.

*Amélia Gonzalez é jornalista

Fonte: G1