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Degradação causada pelo homem afeta 38% da floresta amazônica

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Degradação causada pelo homem afeta 38% da floresta amazônica
Região em Belterra

O desmatamento na Amazônia, que em 2022 atingiu o 5º recorde anual consecutivo, está longe de ser a única ameaça à maior floresta tropical do mundo. Novo estudo publicado na revista Science, revela que a degradação causada pela extração de madeira, fragmentação de habitat, incêndios e secas já afeta 38% do que restou da floresta.

O artigo “The drivers and impacts of Amazon forest degradation” (Fatores e impactos da degradação florestal na Amazônia, em tradução livre) é assinado por 35 cientistas de instituições nacionais e internacionais. O levantamento utilizou imagens de satélite e dados obtidos em campo sobre as mudanças na região amazônica, publicados entre 2001 e 2018.

A pesquisa aponta que ação humana tem superado os impactos dos fenômenos naturais na Amazônia, o que compromete a biodiversidade, o armazenamento de carbono e a sobrevivência de comunidades tradicionais, como ribeirinhos e indígenas.

A maioria das análises de uso e cobertura da terra se concentram nas causas e efeitos do desmatamento, mas há outros distúrbios que ameaçam o futuro da floresta, como os efeitos de borda (devido ao desmatamento e à fragmentação do habitat), a extração de madeira, os incêndios e as secas extremas, intensificadas pelas mudanças climáticas.

As emissões da perda gradual de vegetação, entre 50 e 200 milhões de toneladas ao ano, se equiparam e até superam as do desmatamento, entre 60 e 210 milhões de toneladas ao ano. Florestas degradadas perdem até 34% da evapotranspiração – processo no qual as plantas bombeiam água de volta para a atmosfera – na estação seca, aponta a pesquisa.

O renomado pesquisador brasileiro Carlos Nobre, que participou de pesquisa análoga publicada pela Science, explicou que as maiores ameaças são causadas pelo desmatamento regional, impulsionado pela demanda do mercado de exportação, e pela mudança climática global.

Em entrevista ao Jornal Nacional, o cientista ressaltou que essas transformações deveriam levar milhões de anos para acontecer estão sendo vistas em poucas décadas. “Passando esse ponto, entre 30 e 50 anos nós vamos perder entre 50 e 70% da floresta, que se tornará um ecossistema aberto, muito degradado com imensa perda da biodiversidade”, alertou.

Como reverter a situação?

Os cientistas explicam que alguns distúrbios, como os efeitos de borda, podem ser combatidos com a redução do desmatamento, enquanto outros, como as secas extremas, exigem medidas adicionais, incluindo esforços globais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Para frear a degradação é preciso operacionalizar o monitoramento dos distúrbios e refinar as estruturas, afirmam.

Uma ideia seria o conceito de “smart forests” (florestas inteligentes), assim como as “smart cities” (cidades inteligentes), que utilizam tecnologias para controlar a qualidade do ambiente.

David Lapola, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp, e um dos líderes do estudo, ressalta que coibir o uso do fogo, a exploração ilegal de madeira e os efeitos de borda é responsabilidade dos países amazônicos, mas combater as mudanças do clima é um compromisso global.

“Ao falar da degradação causada por secas extremas ligadas às mudanças climáticas globais, isso é uma responsabilidade para o mundo todo, em que todos os países têm de atuar para reduzir suas emissões. Do contrário, a floresta sofrerá degradação do mesmo jeito”, afirma Lapola.

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