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Parques eólicos ameaçam comunidades e biodiversidade no Seridó

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Parques eólicos ameaçam comunidades e biodiversidade no Seridó
Seridó

Responsável por 10,8% da matriz brasileira, a energia eólica é uma das que mais crescem no Brasil, sobretudo no Nordeste. No Rio Grande do Norte, estado que lidera a produção, já são 224 empreendimentos em operação e mais 63 em construção, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do RN. Apesar do potencial, a modalidade tem impactado comunidades locais e a paisagem no sertão potiguar.

A equipe de jornalismo da Marco Zero percorreu quase 1.100 quilômetros pelos sertões e litoral do RN para conhecer comunidades impactadas pela energia dos ventos. Em reportagem, a equipe revela que o impacto mais visível é a destruição da Caatinga, derrubada para dar lugar a grandes parques eólicos.

O tráfego intenso de veículos pesados levanta nuvens de poeira, obrigando moradores a permaneceram com as janelas fechadas. As casas são repletas de rachaduras causadas pelas explosões.

“Eles [representantes da empresa] disseram que as rachaduras não tinham sido causadas pelas explosões e eu mesmo tive que comprar o material e mandar cobrir tudo. Se fosse esperar por eles, a casa tinha caído”, contou Antônio Acelino de Moura, de 65 anos, morador de Lajes, onde está o Complexo Eólico Santa Rosa Mundo Novo, do grupo português EDP Renewable. Procurada pela reportagem, a empresa não se manifestou a respeito das denúncias.

Segundo a organização Seridó Vivo, mais de 120 aerogeradores devem ser instalados nas serras nos próximos anos. O Instituto do Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) afirma que, de 2019 a 2022, foram aprovadas 700 licenças de operações para atividades eólicas em todo o estado. Só em 2022 foram 229 aprovações.

A arara-maracanã é uma das espécies da região, ameaçada pelos parques eólicos. Um levantamento do Seridó Vivo identificou apenas 30 exemplares dessas aves. Também integrante do movimento, o biólogo e doutor em ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Paulo Marinho, destacou a relevância que as áreas de serra têm para o equilíbrio ambiental.

“As áreas de serra ainda são áreas com a vegetação nativa bastante preservada porque são regiões onde os agricultores não costumam plantar devido às condições de solo. Com a chegada das eólicas, essas serras estão sofrendo tanto com o desmatamento das áreas de instalação dos aerogeradores quanto das áreas que são desmatadas para a construção de estradas”.

Por ser uma fonte renovável e limpa, já que não libera resíduos ou gases poluentes durante sua produção e consumo, grande parte dos empreendimentos eólicos recebem dispensa do Estudo de Impacto Ambiental/ Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). A maioria só apresenta o Relatório Ambiental Simplificado (RAS), o que resulta em danos ambientais irreversíveis.

Embora seja considerada uma atividade de baixo impacto ambiental, a geração eólica gera inúmeras sequelas, como desmatamento, atropelamento de animais silvestres, afugentamento da fauna devido ao barulho e aumento da mortandade de aves e morcegos, que se chocam contra as hélices.

Sítios arqueológicos

Além dos danos às comunidades locais e à biodiversidade, os parques eólicos ameaçam importantes sítios arqueológicos no Rio Grande do Norte. Nas serras do Geoparque Seridó – onde está o sítio arqueológico São Braz, com pinturas rupestres de, no mínimo, 5.000 anos – alguns aerogeradores já estão em funcionamento.

“Nós sabemos a importância da geração de energia renovável, mas ela precisa ser feita de maneira correta e é justamente isso que nós queremos com a realização de estudos de impactos ambientais bem elaborados”, defendeu a estudante e integrante do Seridó Vivo, Rani Sousa.

Acesse aqui a matéria completa, produzida pela Marco Zero. A reportagem foi feita com apoio do Report for the World, uma iniciativa do The GroundTruth Project.