Array
Notícias

Municípios da Amazônia lideram ranking de emissões de gases de efeito estufa

Array
Municípios da Amazônia lideram ranking de emissões de gases de efeito estufa
Gado em área desmatada próxima a Porto Velho em 2020. Crédito: Bruno Kelly/Amazônia Real [CC BY 2.0]

Oito dos dez municípios que mais emitem gases de efeito estufa no Brasil estão na Amazônia, onde o desmatamento é a principal fonte de emissões. Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, lideram o ranking de maiores emissores, seguidos por Porto Velho (RO) e Lábrea (AM). É o que mostra a segunda edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), divulgado nesta segunda-feira (13).

O relatório é uma iniciativa do Observatório do Clima, que calculou as emissões de todos os 5.570 municípios brasileiros entre 2000 e 2019. Os dados englobam mais de uma centena de fontes de emissão nos setores de energia, indústria, agropecuária, tratamento de resíduos, mudança de uso da terra e florestas.

Ranking de emissões por municípios – 2019 (dados em milhões de toneladas de CO2 equivalente):

1. Altamira – 35,2
2. São Félix do Xingu – 28,9
3. Porto Velho – 23,3
4. Lábrea – 23,2
5. São Paulo – 16,6
6. Pacajá – 16,2
7. Novo Progresso – 14,9
8. Rio de Janeiro – 13,8
9. Colniza – 13,5
10. Apuí – 12,5

Juntos, os dez maiores emissores liberaram 198 milhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e) em 2019. É mais do que países inteiros, como Peru e Holanda.

Apenas Altamira emitiu 35,2 MtCO2e em 2019. No mesmo ano, o município liderou o desmatamento na Amazônia, com a destruição de 575 km² de floresta, e foi o segundo no ranking de queimadas, com 3,8 mil focos de calor registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Embora seja o maior emissor, Altamira é também o que mais sequestra carbono da atmosfera devido às vastas áreas protegidas. Em 2019, o município capturou 25,7 toneladas de dióxido de carbono equivalente. Como as árvores emitem carbono quando se decompõem ou são derrubadas, os especialistas ressaltam a importância de preservar a floresta, bem como criar e manter unidades de conservação e terras indígenas.

São Paulo e Rio de Janeiro são os únicos de fora da Amazônia entre os campeões de emissões, na quinta e oitavas posições, respectivamente. Em municípios mais populosos, como as capitais, a principal fonte de emissão é o setor de energia, principalmente por causa da queima de combustíveis fósseis.

Emissões por habitante

Na análise de emissões per capita, os municípios amazônicos também saíram na frente. Dos dez municípios com mais emissões por habitante, seis são do Mato Grosso, três do Pará e um do Amazonas.

Em Novo Progresso (PA), epicentro do desmatamento no eixo da BR-163, os habitantes emitem, por ano, 14 vezes mais que um cidadão do Qatar, país com maior quantidade de carbono per capita do planeta. É como se cada morador de Novo Progresso tivesse mais de 500 carros rodando 20 km por dia com gasolina, indica o levantamento.

Agropecuária impulsiona emissões

O levantamento mostra que a maior parte das emissões é resultado do desmatamento provocado pela agropecuária. Entre 2000 e 2019, as pastagens cresceram 2,13 milhões de hectares nos municípios líderes de emissões. Em 2019, o setor agropecuário foi o maior emissor em 67% dos municípios brasileiros, com destaque para a Amazônia, que concentra a maioria das emissões relacionadas ao setor.

O bioma amazônico abrange 64% das emissões da agropecuária, seguido por Pantanal (18%), Cerrado (11%) e Pampa (7%). Os municípios que mais emitem no setor são os que apresentam os maiores rebanhos bovinos (corte e leite). O processo de digestão dos animais, a chamada fermentação entérica, é o que mais contribui com as emissões de metano, principal gás de efeito estufa do setor.

São Félix do Xingu, no Pará, que tem o maior rebanho do país, foi o que mais emitiu no setor em 2019, totalizando 4,5 toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e). Logo atrás está Corumbá (MS), com 3,6 MtCO2e, e Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), com 2,4 MtCO2e.

No acumulado de 2000 a 2019, o município de Corumbá (MS) é o primeiro do ranking, com 74,5 MtCO2e emitidas ao longo de duas décadas. Na segunda e terceira colocações aparecem São Félix do Xingu (PA) e Ribas do Rio Pardo (MS), com 73,7 e 49,9 MtCO2e, respectivamente. No Pantanal, apenas dois municípios, Corumbá (MS) e Cáceres (MT), são responsáveis por 49% das emissões no bioma relacionadas à agropecuária.

Um fato interessante é que os dez municípios que mais emitiram no setor em 2019 não estão entre os com maior PIB Agropecuário. Os municípios com maior valor de PIB Agropecuário concentram-se na agricultura, diferente dos que mais emitem, cuja produção é voltada para a pecuária.

Segundo o Greenpeace, a indústria da carne responde por 80% do desmatamento da Amazônia e, até 2030, a pecuária terá liberado 49% dos gases de efeito estufa permitidos para manter o aquecimento da Terra entre 1,5 e 2ºC.