Brasilagro quer derrubar 10.820 hectares de Cerrado no Norte de Minas

Press release

Belo Horizonte, 21 de março de 2022 – A Brasilagro/Companhia Brasileira de Propriedades Agrícolas, propriedade da argentina Cresud, latifundiária que detém controle de quase um milhão de hectares na América Latina, quer derrubar 10.820 ha de Cerrado no município de Bonito de Minas, e substituí-lo por capim para criação de gado e culturas de sequeiro. O processo está pautado na CAP/Copam, amanhã, 22. Mais de 50 organizações da sociedade civil, incluindo a Amda, querem que o processo seja retirado de pauta.

O empreendimento está inserido em área de ocorrência de várias unidades de conservação de uso sustentável e de proteção integral, que compõem o Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu. Imagens de satélite mostram que cerca de 80% da área diretamente afetada não foi desmatada ou degradada por atividades humanas nos últimos 40 anos, estando em estágio avançado de recuperação.

Em ofício enviado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), as organizações ressaltaram que o parecer do órgão licenciador traz dados desfasados e incompatíveis com a área do empreendimento, omitindo, inclusive, a ocorrência de diversas espécies ameaçadas de extinção. É o caso do cachorro-do-mato-vinagre, que foi redescoberto na região após ser considerado extinto em Minas Gerais por mais de um século.

“O parecer da Semad não retrata a realidade da região, tornando o licenciamento incompatível com os mais elementares princípios de sustentabilidade social e ambiental. Mesmo o parâmetro econômico é questionável, devido à pobreza do solo e escassez hídrica”, afirma Dalce Ricas, superintendente da Amda.

A área é um dos últimos refúgios da onça-pintada no Estado e habitat para mais de 28 espécies de mamíferos de médio e grande porte, como queixada, cervo-do-pantanal, tatu-canastra e veado-campeiro. No parque Veredas do Peruaçu e seu entorno, também está a maior densidade registrada de gato-do-mato pequeno, espécie de felino brasileira ameaçada de extinção em nível mundial.

Disponibilidade hídrica

A escassez hídrica é outro ponto que afeta a viabilidade ambiental e econômica do empreendimento, que não tem autorização para uso de água. O parecer técnico da Semad, afirma que a maioria dos corpos hídricos que deveriam ser intermitentes, ou seja, conter o fluxo de água durante o período chuvoso, estavam secos o tempo todo.

“Devido à expressiva redução de chuvas nos últimos 15 anos, indicando uma mudança no clima da região Norte de Minas, projetos agropecuários e de silvicultura vêm enfrentando grandes dificuldades de sobrevivência. Muitos foram abandonados”, destacaram as organizações signatárias do ofício.

Proteger a vegetação nativa é fundamental para o abastecimento das veredas, rios e lençóis freáticos, em uma região que vem sofrendo a cada ano redução significativa de disponibilidade hídrica, ressaltaram as ONGs.

Impactos em comunidades tradicionais

Para as ONGs, o empreendimento também configura grave ameaça às comunidades tracionais, que dependem do Cerrado para sobreviver. Grande parte das famílias da região vivem da agricultura de subsistência e da coleta de recursos naturais, como ervas e frutos, usados diretamente na alimentação e no comércio.

Citam como exemplo a Comunidade Veredinhas, onde vivem dezenas de famílias, adjacente à área da Brasilagro, e se sobrepõe a um trecho de seu segmento oeste, evidenciando grande potencial de conflito social.

Assinaram o ofício:

Amigos de Iracambi (MG)
Angá – Associação para a Gestão Socioambiental do Triângulo Mineiro (MG)
Apoena – Associação em Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar (SP)
Apremavi – Associação de Preservação do Meio Ambiente (SC)
Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais (MG)
Associação Ambientalista Copaíba (SP)
Associação Ambientalista Floresta em Pé – AAFEP(SP)
Associação Ayrumã (MG)
Associação dos Agricultores Familiares, Extrativistas, Apicultores, Artesãos, Indígenas e Quilombolas do Vale do Peruaçu – AQUIPERUAÇU (MG)
Associação dos Pequenos Produtores e Agricultores Familiares de Sambaiba Mamede e Curral de Pedras (MG)
Associação dos Produtores Rurais e Agricultores familiares de Araçá inserida na APA Cavernas do Peruaçu Januária (MG)
Associação Mico-Leão-Dourado (RJ)
Associação Mineira de Defesa do Ambiente – Amda (MG)
Associação para Proteção Ambiental do Vale do Mutuca – Promutuca (MG)
Associação pelo Meio Ambiente de Juiz de Fora – AMAJF (MG)
Associação Pró Pouso Alegre – Appa (MG)
Associação Professora Ana Maria dos Pequenos Produtores Rurais de Olhos d’água /Peruaçu (MG)
Cooperativa dos Agricultores Familiares e Extrativistas do Vale do Peruaçu COOPERUAÇU (MG)
Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Pandeiros COOPAE(MG)
Cooperativa Regional de Produtores Agrissilviextrativista Sertão Veredas – Coop Sertão Veredas (MG)
Defensores do planeta (RJ)
Fundação Pro Natureza – Funatura (DF)
Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia (BA)
Grupo Ação Ecológica – GAE (RJ)
Instituto Biotrópicos (MG)
Instituto Educa Brasil (SP)
Instituto IbiAuá (MG)
Instituto Pequi (MG)
Instituto Pequi do Cerrado (MG)
Instituto Rosa e Sertão (MG)
Instituto Rosacea e Cresertão (MG)
Instituto Sertão Vereda (MG)
ISPN – Instituto Sociedade, População e Natureza (DF)
Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais (PR)
MDPS – Movimento de Defesa de Porto Seguro (BA)
Mosaico de Áreas Protegidas do Espinhaço: Alto Jequitinhonha -Serra do Cabral(MG)
Move – Movimento Verde (RJ)
Movimento Geraizeiro (MG)
Núcleo Gestor da Cadeia do Pequi e outros frutos do Cerrado (MG)
Observatório de Justiça e Conservação (PR)
Onda Verde Preservando o Meio Ambiente (RS)
Reapi – Rede Ambientalista do Piauí (PI)
Rede Cerrado
Rede de Mosaicos de Áreas Protegidas – REMAP
Rede de Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil Rede PC (MG)
Relictos – Associação de Defesa do Ambiente (MG)
RMA – Rede de Ongs da Mata Atlântica
SPVS – Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (PR)
Vazanteiros em movimento (MG)
WWF-Brasil