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Aquecimento global afeta 28% das lavouras no Centro-Oeste

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Aquecimento global afeta 28% das lavouras no Centro-Oeste

Reflexos das mudanças climáticas, a diminuição das chuvas e o aumento da temperatura estão causando efeitos devastadores sobre a produção agrícola no Brasil. Novo estudo publicado na revista científica Nature Climate Change, mostra que 28% das terras cultivadas na região Centro-Oeste já foram afetadas pelo aquecimento global e 74% podem ser impactadas pelas secas e pelo calor até 2060.

De acordo com a pesquisa, áreas de cultivo de milho e soja no Mato Grosso e na região do Matopiba (composta pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que concentra metade da produção agrícola do país, foram severamente afetadas por condições climáticas adversas, causando perda de produtividade e lucro, sobretudo a partir de 2012.

Como 90% da produção de soja e milho no Brasil depende da água da chuva, a agricultura brasileira é altamente vulnerável a secas, ondas de calor e outras perturbações do clima. Nas lavouras de soja sem irrigação, a instabilidade climática já causou perda de 5 quilos por hectare no Matopiba e 26kg/ha no Mato Grosso. Nas culturas de milho, a situação foi ainda mais grave: perda de 1,3 mil kg/ha no Matopiba e 892 kg no Mato Grosso.

Mas não só as regiões alimentadas exclusivamente pela chuva tiveram diminuição. As plantações de soja em áreas com irrigação caíram ainda mais: 142 kg por hectare no Matopiba e 111 kg/ha no Mato Grosso. Já as lavouras de milho com irrigação se saíram um pouco melhor, com perdas de 24 e 665 quilos por hectare no Matopiba e Mato Grosso, respectivamente.

Conter o desmatamento é a resposta

O país responde por 32% da soja e 8% do milho produzido no mundo. Nas últimas décadas, investimentos em tecnologia e inovação fizeram com que o Brasil se tornasse o maior produtor agrícola do planeta, mas o aquecimento global ameaça essa expansão. De acordo com o estudo, a área de terras cultivadas afetada pelas mudanças do clima no Mato Grosso e Matopiba pode passar de 50% em 2030 e chegar a 74% nos próximos 40 anos, se nada for feito.

Para aumentar a produção, não basta aumentar as áreas de cultivo, pois ao derrubar florestas para dar lugar às monoculturas, multiplicam-se as chances de desequilíbrio climático, como as secas e o aumento da temperatura. Os pesquisadores afirmam que estratégias de adaptação agronômica podem até aliviar alguns impactos, mas a manutenção da vegetação nativa é uma parte crítica da solução para estabilizar o clima regional.

“A agricultura que substitui florestas está precisando como nunca das chuvas geradas pelas florestas”, analisa Paulo Brando, coautor do estudo e pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e da Universidade de Irvine, na Califórnia. “O Brasil teria produzido muito mais grãos e expandido a agricultura mais rápido se não fosse pela intensificação de eventos climáticos extremos na região”, completa.

“A vegetação nativa funciona como uma usina natural que regula o microclima local. Se a gente suprime essa vegetação, a área da lavoura fica mais seca e isso atrapalha o ciclo de crescimento de plantas como a soja e o milho, impactando a produtividade da safra”, afirma a coautora do estudo Ludmila Rattis, que é pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do Woodwell Climate Research Center.

Brando, Rattis e os outros autores da pesquisa apontam que, em vez de investir apenas em maquinários, é necessário pensar em inovação. Criar novas formas de plantar é mais eficiente que buscar novas áreas para produzir. Dentre as possibilidades elencadas na pesquisa, estão o cultivo de novos tipos de grãos, uso inteligente de irrigação e, principalmente, manter o equilíbrio climático por meio da conservação da cobertura vegetal.

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