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Em 35 anos, área queimada no Brasil chega a quase 1,7 milhão de km²

Em 35 anos, área queimada no Brasil chega a quase 1,7 milhão de km²
Fogo no município de Trairão

Entre 1985 e 2020, o Brasil queimou mais de 150 mil quilômetros quadrados por ano, extensão maior que o território da Inglaterra. A área queimada nesses 36 anos corresponde a praticamente um quinto do território nacional: 1.672.142 km², dos quais 65% foi de vegetação nativa. Os dados são de levantamento inédito do MapBiomas, iniciativa que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia.

Os grandes picos de incêndios ocorreram principalmente em anos marcados por secas extremas (1987, 1988, 1993, 1998, 1999, 2007, 2010, 2017), mas as altas taxas de desmatamento, sobretudo antes de 2005 e depois de 2019, influenciaram diretamente o aumento da área queimada.

“Cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou duas vezes ou mais, ou seja, não estamos falando de eventos isolados. No caso da Amazônia, 69% do bioma queimou mais de uma vez no período, sendo que 48% queimou mais de três vezes”, alertou Ane Alencar, coordenadora do Mapbiomas Fogo.

Quanto aos estados que concentraram maior percentual de área queimada, em primeiro ficou o Mato Grosso, seguido de Pará e Tocantins. Embora Cerrado e Amazônia compreendam 85% da área queimada nos últimos 35 anos, nenhum bioma brasileiro foi tão afetado como o Pantanal, que teve 57% de seu território queimado pelo menos uma vez entre 1985 e 2020.

Os incêndios tornam-se perigosos no Pantanal quando os baixos níveis dos rios impedem as inundações. Em tais períodos, o risco de grandes incêndios florestais aumenta e a ausência de áreas alagadas facilita a propagação do fogo, como ocorreu no ano passado, quando a região teve o pior índice de queimadas da história.

O coordenador do MapBiomas Pantanal, Eduardo Reis Rosa, explica que o bioma tem vegetação adaptada ao fogo, no entanto, a alta frequência pode torná-lo prejudicial à biodiversidade.

“Essas características do bioma, associadas a eventos climáticos de seca e fortes ventos, torna o fogo um problema a ser controlado. Questões relativas ao uso do fogo como forma de manejo, em condições inadequadas, podem levar a ocorrência de incêndios descontrolados por extensas áreas”, alertou.

Para Ane Alencar, “sabendo onde foi queimado é possível entender a dinâmica do fogo e quais as áreas que estão mais vulneráveis no futuro. Assim, o mapeamento é fundamental para entender a frequência, intensidade do fogo, para o planejamento do combate e apontar áreas de maior risco”.

A equipe do MapBiomas processou mais de 150 mil imagens geradas por satélites para chegar aos resultados. Com ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada entre 1985 e 2020 nos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas para mostrar áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo.

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