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Incêndios florestais podem ser mais severos em 2021

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Incêndios florestais podem ser mais severos em 2021
Fogo controlado na Área de Proteção Ambiental do Jalapão

O Brasil experimentou incêndios florestais sem precedentes na última década. Em 2020, o Pantanal teve o pior índice de queimadas da história, tendo 30% de seu território consumido pelas chamas. O mesmo pode acontecer este ano se não houver políticas ambientais efetivas. O alerta é de estudo publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation no final de julho.

De acordo com a líder do estudo, Vânia Pivello, da Universidade de São Paulo (USP), vários fatores são responsáveis pelo aumento das queimadas. Em primeiro lugar, está a mudança climática, que diminui a incidência de chuvas e deixa o clima mais seco. Em segundo, há o enfraquecimento dos órgãos ambientais, que enfraquece a fiscalização. Ela também cita o uso irresponsável do fogo por parte de proprietários de terra.

Combinados, esses fatores aumentam o risco de grandes incêndios, como os ocorridos em 2020. “Os incêndios no Pantanal foram algo totalmente sem precedentes. Ficou ainda mais clara a necessidade de uma gestão integrada do fogo no Brasil, baseada em evidências científicas”, comenta a pesquisadora.

O fogo como um aliado

Os pesquisadores explicam que cada bioma reage de uma forma ao fogo. Enquanto florestas tropicais úmidas, como Amazônia e Mata Atlântica, são extremamente sensíveis a incêndios – onde os intervalos naturais de retorno do fogo são estimados em centenas ou mesmo milhares de anos – há aqueles que são dependentes do fogo, como Cerrado e Pampa.

Nesses campos e savanas, os incêndios naturais geralmente ocorrem nos meses de transição entre as estações e não se espalham por grandes áreas porque são extintos pelas chuvas. O fogo, causado por quedas de raios que incendeiam a vegetação seca acumulada, atinge tecidos finos e inflamáveis das gramíneas com rapidez suficiente para não matar as plantas e a maioria dos vertebrados.

“O calor gerado por esses incêndios não penetra abaixo da camada superficial do solo, pois o solo fornece isolamento, permitindo que sementes enterradas e partes perenes das plantas sobrevivam ‘escapando’ do fogo. Como resultado, após esses incêndios rápidos e de baixa intensidade, as plantas rebrotam, e logo após o incêndio, o Cerrado ou Pampa queimado pode se transformar em uma paisagem florida e verde”, aponta o levantamento.

No Pantanal, bioma também habituado a regimes de fogo, os incêndios tornam-se perigosos quando os baixos níveis dos rios impedem as inundações, expondo as várzeas a grande quantidade de combustível proveniente da vegetação seca. Em tais períodos, o risco de grandes incêndios florestais aumenta e a ausência de áreas alagadas facilita a propagação do fogo, como ocorreu no ano passado.

Manejo Integrado do Fogo

A pesquisa ressalta que desde os tempos coloniais, a política de “fogo zero” prevaleceu no Brasil. Somente a partir da década de 1970 que essa perspectiva começou a mudar à medida que o fogo se tornou objeto de estudos científicos, mostrando que a exclusão do fogo em ecossistemas dependentes causa perda de biodiversidade.

Em 2014, as primeiras queimas prescritas foram realizadas no Parque Nacional da Chapada das Mesas e na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins e, desde então, outras unidades de conservação têm adotado o Manejo Integrado do Fogo (MIF), especialmente no Cerrado.

Ao queimar parte da vegetação, de forma controlada, as técnicas de manejo do fogo ajudam a diminuir a matéria orgânica acumulada, como galhos e folhas secas, que servem de combustível para grandes incêndios. Apesar da importância, o MIF não foi amplamente implementado no país.

Algumas unidades de conservação já fazem uso da técnica, como o Parque Nacional das Sempre Vivas (MG), a Área de Proteção Ambiental do Jalapão (TO), a Estação Ecológica Serra Geral (TO), o Parque Nacional Serra das Mesas (MA), a Chapada das Emas (GO) e a Chapada dos Veadeiros (GO), mas o MIF está longe do ser utilizado em todo o país.

De acordo com o estudo, os eventos de fogo aumentarão no futuro à medida que os efeitos das mudanças climáticas se tornam mais fortes e causam eventos climáticos mais extremos, cenário em que as técnicas de manejo do fogo serão imprescindíveis. Para Vânia Pivello, “se providências não forem tomadas, novas tragédias podem se repetir neste ano”.

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