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Mais de 99% dos desmatamentos no Brasil em 2020 foram ilegais

Mais de 99% dos desmatamentos no Brasil em 2020 foram ilegais
Desmatamento próximo à Flona do Jacundá

Com crescimento de 13,6%, o desmatamento registrado nos seis biomas brasileiros em 2020 foi responsável pela perda de 13.853 quilômetros quadrados, área nove vezes maior que a cidade de São Paulo. É o que mostra o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, do MapBiomas Alerta, iniciativa que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia.

O relatório apresentou um cálculo inédito da velocidade do desmatamento no país, sendo possível estimar quanto o Brasil perdeu de cobertura vegetal nativa por dia em 2020. Em média, 3.795 hectares foram desmatados diariamente, o equivalente a 24 árvores por segundo.

Para chegar aos resultados, o projeto cruzou informações de cinco sistemas de detecção do desmatamento em tempo real por satélite e validou com imagens de alta resolução. Mais de 74 mil alertas de desmatamento no país inteiro foram analisados para produção do levantamento.

O cruzamento mostra que quase todos os alertas de desmate emitidos no ano passado têm um ou mais indícios de ilegalidade. No total, 99,8% deles, equivalendo a 95% da área desmatada, não tinham autorização, se sobrepunham a áreas protegidas ou desrespeitavam o Código Florestal.

Os números são reflexo do cenário de impunidade e desmonte dos órgãos públicos, que possuem cada vez menos estrutura e autonomia para repressão de crimes ambientais. Segundo o relatório, somente 2% dos alertas e 5% da área desmatada entre 2019 e 2020 sofreram multas ou embargos pelo Ibama.

“Infelizmente o desmatamento cresceu em todos os biomas e o grau de ilegalidade continua muito alto. Para enfrentar o desmatamento é necessário que a sensação de impunidade seja desfeita. Para isso, é preciso garantir que o desmatamento seja detectado e reportado e que os responsáveis sejam devidamente penalizados e não consigam aferir benefícios das áreas desmatadas”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas.

Caatinga tem maior alta

De acordo com o levantamento, a Caatinga sofreu a maior alta no desmatamento: 405%. A elevação está relacionada ao novo sistema de detecção de desmate por satélite exclusivo para o bioma, que mostra com mais precisão a derrubada florestal no semiárido brasileiro.

Em ritmo impressionante de destruição, a Mata Atlântica ficou com a segunda maior alta: 125%, seguida de Pampa (99%), Pantanal (43%), Amazônia (9%) e Cerrado (6%).

Líderes da destruição

O levantamento mostra que uma pequena parcela do território brasileiro concentra as maiores perdas de vegetação no país. O Pará é o estado que lidera a destruição, com 33% dos alertas de desmatamento e 26% da área desmatada total (366 mil hectares), seguido de Mato Grosso, com 13%, e Maranhão, com 12%.

Os municípios que mais desmataram também estão no Pará. São eles: Altamira, que derrubou 60.608 hectares em 2020 – aumento de 12% em relação a 2019 – e São Félix do Xingu, com 45.587 hectares desmatados. No ano passado, apenas 50 cidades concentraram 49% da área desmatada no Brasil.

Dos 20 municípios mais desmatados, somente três ficam fora da Amazônia: Formosa do Rio Preto e São Desidério, no Cerrado baiano, e Corumbá, no Pantanal sul-mato-grossense.

Além disso, o levantamento mostra que uma parcela pequena, mas muito destrutiva do setor agropecuário concentra os maiores índices de desmatamento. Em pelo menos dois terços dos alertas de desmatamento é possível identificar os responsáveis, e 68% das detecções válidas sobrepõem propriedade rurais inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

No Pantanal e na Amazônia, esse número é ainda mais alto: 84,8% e 69,2%, respectivamente. Em tese, esses proprietários poderiam ser multados até mesmo pelo correio, já que para ter registro no CAR é preciso fornecer os dados do requerente, mas, na prática, os crimes ficam impunes.

“É preciso que os órgãos de controle autuem e embarguem as áreas desmatadas ilegalmente e as empresas eliminem essas áreas de suas cadeias de produção”, destacou Tasso Azevedo.