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Uma em cada quatro plantas carnívoras corre risco de extinção

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Uma em cada quatro plantas carnívoras corre risco de extinção
Drosera Magnifica é uma planta carnívora nativa de Minas Gerais. Crédito: Paulo Gonella

Cerca de um quarto das espécies de plantas carnívoras existentes no mundo estão sob risco de extinção, indicou um estudo publicado no periódico científico Global Ecology and Conservation, em dezembro. A coleta ilegal de plantas na natureza e o desmatamento decorrente da expansão urbana e agrícola são os fatores que colocam as espécies em maior risco.

A pesquisa foi realizada por cientistas da Universidade de Curtin e do Jardim Botânico de Victoria, na Austrália, do Herbário de Munique, na Alemanha, e da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), no Brasil. Este é o primeiro exame sistemático em escala global sobre o estado de conservação e ameaças às plantas carnívoras.

De acordo com o levantamento, 69 espécies estão criticamente ameaçadas (8%), 47 ameaçadas (6%), 104 vulneráveis (12%) e 23 quase ameaçadas (3%). O desmatamento promovido pela agricultura e atividades madeireiras ilegais é o que mais afeta o grupo, colocando 170 espécies em risco; as alterações nos regimes hidrológicos e de fogo naturais, ameaçam 168 espécies; e as mudanças climáticas, 158.

As plantas carnívoras são conhecidas pelas habilidades de atrair, capturar e matar pequenos animais em busca de nutrientes. As mesmas características que fazem delas especiais, faz com que sejam organismos sensíveis e geralmente restritos a habitats pobres em nutrientes, onde a carnivoria é uma vantagem competitiva. Por isso, elas são as primeiras a desaparecerem quando um ambiente é degradado.

“Muitas ocupam nichos restritivos, como habitats montanhosos, ou persistem em pequenos remanescentes de habitat fragmentados e não têm refúgio em face da mudança climática global”, indicou a pesquisa. Drosera Magnifica é uma espécie brasileira, restrita a regiões montanhosas em Minas Gerais, que sofre com o avanço dos cultivos de eucalipto. Ela foi descrita por um dos autores do estudo e pesquisador da UFSJ, Paulo Gonella.

No mundo, existem aproximadamente 860 espécies de plantas carnívoras, sendo 89 restritas a apenas um local de ocorrência, isto é, endêmicas. A maioria é encontrada em regiões pantanosas, ecossistemas com os mais altos índices de degradação do planeta, como o sudoeste da Austrália Ocidental e da Asia, Europa Mediterrânea, centro-leste do Brasil e sudeste dos Estados Unidos.

Apenas no Brasil, há 100 espécies desse tipo, com a maior parte localizada em Minas Gerais. O país, também ocupa o segundo lugar no ranking de países com o maior número de espécies de plantas carnívoras ameaçadas, atrás somente da Austrália. Essas plantas desempenham serviços ecossistêmicos essenciais, prevenindo até a extinção de outras espécies, apontou o estudo.

Salvando as carnívoras

Para os autores do estudo, salvar as plantas carnívoras exige uma ação global urgente que acabe com o mercado ilegal de plantas silvestres e reduza a perda de habitat/mudança no uso da terra, principalmente em regiões já altamente desmatadas que abrigam alta biodiversidade de plantas carnívoras.

O grupo de pesquisadores ainda recomendou a expansão das reservas existentes e a demarcação de novas áreas protegidas, além do fortalecimento das leis de proteção ambiental, sobretudo em locais que abrigam muitas espécies ameaçadas, como o Brasil, Estados Unidos, Indonésia e Filipinas.

“As avaliações de impacto ambiental devem considerar adequadamente a biodiversidade, e uma educação melhorada é necessária para garantir que a indústria, os governos e as comunidades entendam melhor a importância e a dependência humana da biodiversidade e do funcionamento ecológico”, indicou o levantamento.