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Mapeamento inédito revela quase 3 mil projetos de recuperação na Amazônia

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Mapeamento inédito revela quase 3 mil projetos de recuperação na Amazônia
Projeto Cacau Floresta

Enquanto a Amazônia sofre com a degradação causada pelo avanço do desmatamento e das queimadas, projetos de recuperação florestal aumentam a esperança de preservação do bioma. Um mapeamento inédito da Aliança pela Restauração na Amazônia, detectou 2.773 iniciativas de restauração florestal na parte brasileira da floresta, que abrangem uma área de 113,5 mil hectares (ha).

O levantamento destacou a importância dos projetos de recuperação, considerando que quase 20% da cobertura original da Amazônia já foi desmatada, isto é, 80,3 milhões de hectares. Em 2019, mais de 1 milhão de ha foram derrubados no bioma, a maior taxa dos últimos 11 anos. Em 2020, apesar da pandemia do novo coronavírus, o ritmo de destruição foi ainda mais acelerado.

“Este nível de desmatamento é extremamente perigoso porque aproxima a região de um ponto de ruptura, onde poderão ocorrer mudanças irreversíveis no ciclo hidrológico. Isso tem implicações diretas para o desenvolvimento social e econômico da região e do Brasil, pois a Amazônia influencia o regime de chuvas de grande parte do país e do continente sul-americano”, indicou a Aliança.

Além de frear os altos índices de desmatamento e degradação florestal, as iniciativas de restauração podem ser fonte de trabalho e renda. Na Amazônia, a restauração produtiva com Sistemas Agroflorestais (SAFs) é a modalidade mais comum, com 1.643 (59%) das iniciativas. Logo após, vem o plantio de mudas com 734 iniciativas (26%) e semeadura direta que corresponde a 7% dos projetos. Estes modelos integram produção, conservação e restauração.

As organizações da sociedade civil são responsáveis pela maioria das iniciativas (2.426), enquanto as empresas respondem por 52% da área total em restauração. Cerca de 79% dos projetos são de pequena escala (áreas menores que 5 hectares). Rondônia concentra o maior número de iniciativas (1.658), mas os estados do Pará e Mato Grosso possuem a maior parcela da área em restauração mapeada.

Ações como a do projeto Café Apuí, no Amazonas, são um exemplo. A iniciativa já realizou o plantio de 32 mil árvores, diminuíram as taxas de erosão do solo, melhoram a produtividade da pastagem, além de aumentarem a renda das 59 famílias envolvidas em 300%.

Nos municípios de São Félix do Xingu e Tucumã (PA), na região região conhecida como Arco do Desmatamento, o Cacau Floresta já restaurarou mais de 500 hectares da Amazônia desde 2013 com SAFs. O projeto envolve 250 famílias no cultivo do cacau, um produto de alto valor agregado. Iniciativas assim, mostram que cadeias produtivas e sustentáveis são a chave para consolidar uma economia de base florestal e conter a destruição no bioma.

Outro exemplo é o Projeto Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado (RECA), em Rondônia, que abrange 300 famílias e possui 2,5 mil hectares de Sistemas Agroflorestais. “O respeito à Amazônia garante a produção o ano todo e a preservação da biodiversidade. Estamos conectados com a floresta para fornecer os melhores frutos e produtos com qualidade, sabor e origem”, aponta o RECA.

Floresta em pé

Embora os projetos sejam cruciais para a recuperação da Amazônia, a Aliança destaca a importância de manter a floresta em pé, para evitar seu “ponto de ruptura”. As estratégias, de recuperação e combate à degradação, devem andar juntas para serem efetivas.

Estima-se que, quando o desmatamento consumir entre 20% e 25% da área original da floresta, entre 20 e 50 anos a Amazônia se transformará em uma grande savana. “E a savana virá de forma irreversível, porque será o bioma em equilíbrio para o novo clima. Ao diminuir as chuvas locais, reduzirá também a vazão dos rios”, explica o cientista Carlos Nobre, em entrevista.

Uma das formas de impedir que o bioma amazônico chegue nesse ponto é promover o cumprimento da lei, como novo Código Florestal, que prevê a recuperação das áreas que foram ilegalmente desmatadas. Entretanto, o prazo para restauração do passivo ambiental tem sido sucessivamente adiado.

Pelo menos 5 milhões de hectares são passíveis de restauração na Amazônia. A recuperação desse passivo pode afastar a floresta do risco climático, do ponto de ruptura, e auxiliar na remoção do dióxido de carbono na atmosfera, garantindo o enfrentamento às mudanças climáticas e o cumprimento das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, indicou o levantamento.

“É agora ou nunca: tem que parar de desmatar e recuperar o passivo (o que foi desmatado ilegalmente), promovendo uma nova economia de base florestal”, disse à BCC, a secretária executiva da Aliança pela Restauração na Amazônia, Danielle Celentano.

A Aliança

Organizações da sociedade civil, instituições governamentais e empresas se uniram para fundar a Aliança pela Restauração na Amazônia, em 2017. O grupo é formado por 80 instituições-membro (10 governamentais, 13 acadêmicas e instituições de pesquisa, 21 empresas e 36 da sociedade civil). O principal objetivo é promover, qualificar e ampliar a escala da restauração das paisagens florestais na Amazônia brasileira.