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Cientistas brasileiras recebem prêmio internacional de conservação ambiental

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Cientistas brasileiras recebem prêmio internacional de conservação ambiental
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Duas cientistas brasileiras receberam o maior prêmio de conservação ambiental do mundo, conhecido como Oscar verde. A ecóloga Patrícia Medici, que estuda o comportamento das antas no Brasil, recebeu Whitley Gold Award. Já a bióloga Gabriela Cabral Rezende, líder da pesquisa em prol do mico-leão-preto, foi premiada com o Whitley Award. Ambas são pesquisadoras do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).

Medici, agraciada com o ouro da competição, é referência mundial no estudo das antas (Tapirus terrestris), maior mamífero terrestre da América do Sul. Coordenando a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira há mais de 20 anos, a pesquisadora criou o maior banco de dados sobre a espécie no mundo.

O objetivo do projeto é obter dados de demografia, genética e saúde, informações sobre o habitat e os fragmentos naturais utilizados pela espécie, em vias de extinção. As informações colhidas também servem de apoio para conservacionistas em diversos países.

Para Patrícia, lutar pela conservação da anta brasileira é uma forma defender nossas vidas e os recursos naturais. “Considerada a jardineira das florestas, a anta promove a renovação desses ambientes através da dispersão de sementes. Diversas espécies de plantas só existem porque suas sementes passam pelo trato digestivo da anta. A anta ‘brinca’ com a composição e diversidade da floresta”, explicou.

Apesar de crucial para manutenção dos ecossistemas, a anta sofre com um estigma que só existe no Brasil, onde é símbolo de falta de inteligência. A pesquisadora acredita que a comunicação é fundamental nesse aspecto, por ser capaz de ampliar a compreensão sobre a importância da biodiversidade não só para os animais silvestres, mas também para os seres humanos.

Segundo o IPÊ, parte do valor recebido do Whitley Fund for Nature será usada em uma reavaliação da população de antas no Parque Estadual Morro do Diabo, na Mata Atlântica. Nos outros biomas, as atividades continuarão sendo desenvolvidas, com destaque para o novo trabalho na Amazônia, com foco na redução das ameaças às antas ao longo do arco sul do desmatamento.

Mico-leão-preto

Logo após o Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto do Ipê completar 35 anos, a bióloga Gabriela Rezende, à frente da iniciativa há quase uma década, recebeu o tão esperado reconhecimento. Ela concorreu com mais de 100 participantes e ganhou o Whitley Award 2020 junto de outros cinco pesquisadores.

O trabalho liderado por Gabriela concentra-se nos últimos habitats remanescente do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), cuja população está estimada em apenas 1.800 indivíduos. Eles vivem desconectados e isolados em pequenos grupos devido à intensa fragmentação da Mata Atlântica.

“O mico-leão-preto só existe no estado de São Paulo. Tanto que é a espécie símbolo do estado. Temos a responsabilidade de garantir sua existência”, declarou a pesquisadora.

Com a restauração de corredores florestais, a equipe do instituo, com apoio da comunidade local, conecta fragmentos essências para a sobrevivência do primata. Ao todo, nove viveiros comunitários e plantios agroflorestais ajudam a formar os corredores. O maior deles é também o maior do Brasil, com mais de 20 quilômetros e mais de 2,5 milhões de árvores.

O financiamento concedido à pesquisadora permitirá que mais corredores sejam formados. O próximo passo da inciativa é conectar todas as populações da espécie em um contínuo florestal de aproximadamente 45 mil hectares. Para Gabriela, a inspiração em pesquisadores pioneiros é a energia que a faz avançar.

“Fazer a diferença para uma espécie e seu habitat é o
caminho que encontrei para deixar um planeta melhor para as gerações futuras e inspirá-las a se envolver com a conservação, seja profissionalmente ou nas ações do dia-a-dia. Com o prêmio, espero também motivar outras cientistas mulheres a atuar pela conservação ambiental”, destacou.