El Niño e queimadas estimulam colapso de besouros na Amazônia

Populações de besouros rola-bosta caíram para menos da metade na Amazônia após um forte El Niño, fenômeno em que as águas do Pacífico se aquecem, indicou estudo. Para os autores da pesquisa, o declínio da espécie, responsável pela dispersão de sementes e nutrientes no bioma, se deve às secas severas e aos incêndios florestais sob influência de eventos climáticos extremos.

Ao analisarem 30 pontos da Amazônia antes e depois do El Niño de 2015/2016­­ – considerado o mais severo até hoje – os cientistas descobriram que o fenômeno interferiu não só na riqueza e na abundância de besouros. A quantidade de biomassa, as taxas de remoção de fezes, a dispersão de sementes e outros serviços essenciais realizados pelos insetos caíram drasticamente após o fenômeno climático.

As maiores perdas foram observadas em florestas queimadas durante o El Niño, embora distúrbios florestais anteriores também tenham influenciado o declínio das espécies. Isto por que não é apenas o aquecimento do Oceano Pacífcio que provoca perda de biodiversidade na Amazônia, mas a interação entre as interferências humanas sobre as florestas, o clima, as secas e os incêndios intensificados pelo El Niño.

Segundo o pesquisador brasileiro e líder do estudo, Filipe França, as mudanças climáticas estão aumentando a frequência e a intensidade das secas no bioma amazônico, facilitando o alastramento dos incêndios. Esse problema afeta tanto as florestas intocadas, quanto as já alteradas pela ação humana.

Para o biólogo, o estudo mostra que “a combinação de climas mais quentes e secos, extremos climáticos e distúrbios florestais causados pelo homem podem agravar ainda mais o apocalipse de insetos, bem como a perda dos benefícios que eles trazem para a natureza e humanidade. ”

Devido ao importante papel ecológico que desempenham, a mortandade dos besouros rola-bosta é uma ameaça a todo o ecossistema amazônico. Quando transportam fezes de outros animais pelo chão, estes animais dispersam material orgânico pela floresta, fertilizando o solo e “reciclando” os nutrientes.

“Essas descobertas fornecem evidências de que, tanto as secas extremas relacionadas ao El Niño, quanto os incêndios, podem trazer consequências drásticas não apenas para as comunidades vegetais e para o ciclo do carbono, mas também para a diversidade da fauna e suas funções ecológicas”, indicou o estudo.

O novo levantamento reforça pesquisas anteriores que previram uma “extinção em massa” dos insetos. Um compilado de 73 estudos científicos, divulgado em 2019, indicou que 41% das espécies de insetos sofrem com grave declínio populacional, podendo desaparecer nas próximas décadas.

Por ano, estima-se que a população global de insetos perca 2,5% de seu volume. Cientistas advertem para um “colapso catastrófico” dos ambientes naturais, levando em conta o papel desses invertebrados na natureza. Além de atuarem como polinizadores e recicladores de nutrientes, os insetos servem de alimento para uma gama de animais.