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Planta invasora ameaça biodiversidade de Fernando de Noronha

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Planta invasora ameaça biodiversidade de Fernando de Noronha
Planta invasora leucena domina 60% do arquipélago de Fernando de Noronha / Crédito: Thayná Mello

Com crescimento rápido em áreas degradadas, de clima seco e solo pobre, a leucena (Leucena leucocephala) já foi considerada uma “árvore milagrosa”. Introduzida em Fernando de Noronha em 1940 para alimentar animais e produzir lenha, hoje a leucena está presente em 60% do arquipélago e tornou-se uma ameaça para espécies nativas.

O arbusto, originário do México e do norte da América Central, está listado entre as 100 piores espécies invasoras do mundo, causando graves perdas de biodiversidade em ilhas e arquipélagos. O rastro de destruição aparece no Havaí, ilhas Galápagos, ilhas Fiji, na Indonésia e nas Filipinas e, mais recentemente, em Fernando de Noronha.

Para avaliar o impacto da leucena no arquipélago brasileiro, a bióloga Thayná Mello realizou uma pesquisa para seu mestrado no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) em 178 pontos da região. Segundo Alexandre de Oliveira, biólogo do Departamento de Ecologia do IB-USP e orientador de Mello, a leucena é hoje a planta mais comum do arquipélago, dominando um quinto dos locais nos quais se estabeleceu. Onde ela ocorre, a riqueza de espécies nativas diminui cerca de 70%.

“As espécies que vivem (nessas ilhas remotas), por terem evoluído isoladas, interagiram com poucos organismos ao longo de sua história evolutiva. Por isso, não estão adaptadas a competir com outras por recursos e sofrem com a invasão”, explicou Oliveira. Para constatar isso na prática, os pesquisadores observaram o efeito do contato da leucena e de uma espécie nativa, o feijão-bravo (Capparis flexuosa), em outra planta natural do local, o mulungu (Erythrina velutina), uma das mais comuns nas florestas originais do arquipélago.

Verificou-se que o mulungu cresce junto com o feijão-bravo, mas a presença da leucena altera completamente os resultados. “A leucena até melhora a germinação das sementes do mulungu, mas essa planta morre mais e cresce menos” em áreas invadidas, disse Oliveira. Em contrapartida, o feijão-bravo parece não ser afetado pela espécie exótica.

Quando a interação acontece entre as três plantas, o resultado é ainda pior para o mulungu: ele morre mais e cresce menos do que em ambientes em que havia somente a planta invasora. “Notamos que a espécie exótica aumenta a taxa de mortalidade do mulungu em quatro vezes, enquanto a presença dela associada ao feijão-bravo aumenta mais de sete vezes esse índice”, afirmou o biólogo. Isso significa que “uma espécie nativa (feijão-bravo) que não tem efeito sobre outra (mulungu) passa a ter um efeito fortemente negativo quando da presença da invasora (leucena)”.

Os estudos foram realizados entre 2012 e 2014, mas a pesquisa continua. Os levantamentos de Mello dos últimos anos, que incluem a observação de outras 12 espécies de plantas exóticas, foram reunidos no Plano de Ação para Manejo de Flora Exótica Invasora do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, que está em fase inicial de implementação.

Com informações da BBC