Notícias

Pesquisadores alertam que filhotes de peixes já consomem pedaços de plástico

Pesquisadores alertam que filhotes de peixes já consomem pedaços de plástico
Crédito: BBC/Getty Images

Estudo inédito desenvolvido por pesquisadores americanos constatou que peixes ainda em fase larval já consomem pedaços de plástico que flutuam na superfície dos oceanos. Até então, havia confirmação do consumo de plástico somente por peixes adultos. O alerta foi publicado recentemente no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

A superfície do mar perto da costa funciona como uma espécie de “berçário” para filhotes de peixes por sua riqueza de nutrientes. Contudo, ela também está cheia de fragmentos de plástico flutuantes, que ameaçam a vida dos animais em seu estágio mais vulnerável de vida. “Peixes na fase larval são fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas e representam as futuras populações de peixes adultos”, explicou em comunicado Jamison Gove, um dos autores do estudo e oceanógrafo da NOAA, órgão de pesquisa do governo americano.

Os pesquisadores, vinculados ao NOAA e também à Universidade do Estado do Arizona, analisaram dados e materiais de uma área de cerca de 1.000 km² na costa oeste do Havaí. Eles focaram em corredores na superfície da água em que materiais orgânicos e inorgânicos se juntam. De acordo com Jonathan Whitney, ecologista marinho do NOAA e um dos autores do estudo, esses corredores são ricos em plâncton, criando um “oásis de comida” fundamental para o desenvolvimento e sobrevivência das larvas de peixes.

Utilizando técnicas de sensoriamento remoto, os pesquisadores compararam esses corredores a águas superficiais “normais”. Eles registraram densidade mediana 126 vezes maior de plásticos do que outras partes das águas superficiais e oito vezes maior do que a densidade encontrada no Grande Depósito de Lixo do Pacífico, uma massiva área de acúmulo de resíduos, boa parte de plásticos, entre Califórnia e Havaí.

Os pesquisadores dissecaram 658 larvas de peixes. Foram encontradas partículas de plástico em 42 deles, uma ocorrência 2,3 vezes maior do que em outros tipos de águas superficiais. A maior parte dos pequenos fragmentos (menores que 5mm) encontrados tinham cor azul ou translúcida. Como muitos zooplânctons têm pigmentos assim, os pesquisadores acreditam que os animais confundem os elementos plásticos com alimento. “Encontramos pequenos pedaços de plástico no estômago de espécies amplamente comercializadas, como o espadarte e o dourado-do-mar, e espécies de recifes de corais como o peixe-porco”, relatou Whitney.

Ainda é incerto o impacto desta ingestão para larvas de peixes, mas tudo indica que seja igual ou pior do que para animais adultos. “Estudos de laboratório têm algumas limitações, mas já revelaram que a ingestão de plástico pode ter efeitos adversos nos peixes, incluindo o acúmulo de substâncias tóxicas; bloqueio e perfuração intestinal; desnutrição; e diminuição da capacidade de fuga de predadores. Órgãos não plenamente desenvolvidos podem prejudicar a capacidade das larvas de peixes de se desintoxicar e eliminar poluentes químicos. Portanto, os impactos da ingestão de plástico nas larvas são provavelmente mais graves do que nos peixes adultos”, pontuam os cientistas.

O artigo também apresenta possíveis soluções. “É importante ressaltar que reduzir diretamente a exposição de larvas de peixes a plásticos é factível. Estima-se que o volume anual de plástico que chega aos oceanos poderia ser reduzido em cerca de 80% com investimentos globais no gerenciamento de resíduos e comportamento dos consumidores”, conclui.