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Em 30 anos, redução de processos naturais afetará mais da metade da população mundial
Uma natureza gravemente ferida. Este será o cenário em 30 anos, quando mais da metade da população mundial sofrerá com a redução de processos naturais como a polinização de cultivos e renovação da água. Pesquisadores compararam o que os diferentes ecossistemas e processos biológicos oferecem atualmente à população e o que mudará em 2050. As conclusões foram publicadas recentemente na revista científica Science.
Os cientistas determinaram a contribuição natural dos diversos ecossistemas a três processos cruciais para os humanos: a polinização por parte de insetos e aves; a regeneração da água mediante a retirada do excesso de nitrogênio procedente da agropecuária; e a proteção que diversas barreiras naturais oferecem na linha de costa. Eles sobrepuseram esses dados aos da população atual e a prevista em 2050 em escala local. O modelo incluiu também os principais fatores que estão deteriorando a natureza, como desmatamento, avanço da agricultura, urbanização acelerada e mudança climática.
As informações foram aplicadas a três possíveis cenários: um em que as sociedades continuarão baseadas no uso dos combustíveis fósseis; outro emergente, que denominaram de rivalidade regional; e um terceiro protagonizado pela sustentabilidade.
O cenário da rivalidade regional foi considerado o pior. Nele, até 4,45 bilhões de pessoas poderiam ter problemas com a qualidade da água em função da incapacidade dos diferentes ecossistemas para regenerá-la e quase 5 bilhões de humanos sofrerão uma diminuição significativa no rendimento de seus cultivos por causa da polinização deficiente. “É num cenário de geração de blocos, onde o comércio internacional se regionaliza, algo que já estamos vendo com o Brexit e Trump”, comentou o pesquisador Unai Pascal, do Basque Centre for Climate Change (BC3), coautor do estudo. Neste panorama de nacionalização da globalização, o aumento da população intensificará a pressão sobre os recursos que a natureza pode oferecer em muitas regiões do planeta.
No cenário em que a sustentabilidade é protagonista, haveria redução de um terço ou até um décimo no número de pessoas afetadas pela deterioração dos ecossistemas. Contudo, os pesquisadores alertam que, independente do cenário daqui a 30 anos, 500 milhões de habitantes das zonas costeiras enfrentarão maior risco de erosão do litoral ou de inundações.
A pesquisa também apontou quais populações sofrerão mais consequências. Até 2,5 bilhões de pessoas do leste e sul da Ásia e outros 1,1 bilhão na África viverão uma redução na qualidade de sua água. Os riscos costeiros se concentrarão no sul e norte da Ásia. Enquanto isso, os maiores problemas com a polinização natural caberão de novo ao Sudeste Asiático e África, mas também à Europa e América Latina. Nessas regiões, o estudo alerta que quase 900 milhões de pessoas poderiam ser afetadas.
Para a pesquisadora da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Patricia Balvanera, embora a tecnologia venha suprindo vários serviços prestados pela natureza, desta vez ela poderia não ser a resposta. “Se nos referimos a tecnologias como aquelas que substituam por completo as contribuições da natureza, como a polinização manual de cultivos que fazem na China, ou usinas de tratamento de água para eliminar o nitrogênio, ou a elaboração de estruturas sólidas para proteger as costas, não me parece que sejam a solução”, opinou.
Os cientistas indicam que o mais realista é conservar a biodiversidade onde ela mais tem a oferecer. “Contamos com a informação que necessitamos para evitar os piores cenários que projetam nossos modelos e avançar para um futuro justo e sustentável”, afirmou Becky Chaplin-Kramer, do Projeto Capital Natural e coautora do estudo.
Com informações do EcoDebate