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Investigações apontam fazendeiros e empresários como organizadores do Dia do Fogo na Amazônia

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Investigações apontam fazendeiros e empresários como organizadores do Dia do Fogo na Amazônia
Floresta Nacional do Jamanxim

Investigações apontam fazendeiros, madeireiros e empresários da cidade de Novo Progresso, no Pará, como os principais suspeitos de organizarem as queimadas que destruíram a Amazônia neste ano. Os responsáveis prepararam a ação por um grupo no whatsapp e até fizeram uma vaquinha para pagar os custos do combustível – uma mistura de óleo diesel e gasolina – e contratar motoqueiros para espalhar o líquido inflamável pela floresta. As informações foram divulgadas pelo portal Repórter Brasil, que teve acesso às investigações das polícias Civil e Federal.

O ataque incendiário, que ficou conhecido como “Dia do Fogo”, teve início em 10 de agosto. Os detalhes foram costurados em um grupo no whatsapp batizado de “Sertão”, com 70 integrantes. A polícia acredita que ele teria sido criado pelo empresário Ricardo de Nadai, proprietário da loja Agropecuária Sertão. As conversas para a mobilização, entretanto, tiveram início em outro grupo, chamado “Jornal A Voz da Verdade”, com 256 pessoas – lotação máxima permitida pelo aplicativo.

Entre os participantes estavam autoridades da região, como o delegado da Polícia Civil Vicente Gomes, chefe da Superintendência da Polícia Civil do Tapajós, com sede em Itaituba, há 400 quilômetros de Novo Progresso. Gomes impediu que o delegado da cidade repassasse à Polícia Federal os depoimentos recolhidos pela Polícia Civil em Novo Progresso. Isso complicou a relação entre as duas instituições, responsáveis pela investigação.

Os organizadores das queimadas também estão dificultando as apurações, segundo um policial federal que apura o caso. Ele conversou com a Repórter Brasil na condição de anonimato. O policial disse que os fazendeiros da região são bem relacionados com deputados e senadores do Pará, além de terem interlocução com o alto escalão do governo federal.

Ele destacou ainda o poder do Sindicato dos Produtores Rurais de Novo Progresso, que tem influência na Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). Essa, por sua vez, é bem articulada com a Frente Parlamentar Agropecuária – a bancada ruralista. O presidente do sindicato, Agamenon Menezes, foi um dos primeiros suspeitos ouvidos pela Polícia Civil. Nesta terça-feira (22), a Polícia Federal deflagrou a operação “Pacto de Fogo” e apreendeu documentos na sede do sindicato e o computador pessoal de Menezes.

Objetivo era desorganizar fiscalizações

Para o procurador Paulo de Tarso Moreira de Oliveira, do Ministério Público Federal em Santarém, que também participa das investigações, o objetivo do “Dia do Fogo” era inviabilizar a fiscalização ambiental diante da profusão de focos de incêndio. “Investigamos se as lideranças locais se associaram para mascarar a identificação da autoria, pois não há fiscalização capaz de fiscalizar tantos focos de incêndio ao mesmo tempo”, explicou.

Em toda a Amazônia, as queimadas registradas no mês de agosto foram as maiores desde 2010, com aumento de 196% neste ano quando comparado ao mesmo mês de 2018. Foram registrados 31 mil focos em 2019, em comparação aos 10 mil em 2018.