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Cerrado pode desaparecer em 40 anos

Cerrado pode desaparecer em 40 anos
Crédito: Jim Wickens/Ecostorm

O Cerrado é uma das savanas mais ricas em biodiversidade do mundo. Porém, se o ritmo de destruição do bioma continuar, os impactos serão devastadores. O alerta foi feito por Kolbe Soares, analista de Conservação Sênior da WWF-Brasil, na Terça Ambiental realizada nesta terça-feira (3), que teve como tema as ameaças que o Cerrado enfrenta atualmente.

Abrangendo 11 estados, além do Distrito Federal, o Cerrado é o segundo maior bioma do país em área. São 2.045.064 km², equivalente a um quarto do território brasileiro e aproximadamente quatro vezes o tamanho de Minas Gerais. Localizado no coração do Brasil, ele funciona como elo, ligando quatro dos cinco biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal.

Reconhecido como hotspot mundial da biodiversidade, o Cerrado abriga 5% de todas as espécies animais e vegetais do planeta e 30% da biodiversidade do país. De acordo com Soares, o ecossistema apresenta ainda alto grau de endemismo: 38% das plantas só existem no Cerrado, bem como 17% dos répteis; 28% dos anfíbios; e 12% dos mamíferos. Pode-se encontrar em torno de 216 terras indígenas e 83 diferentes etnias no bioma.

Soares lembrou que o Cerrado também é muito importante quando o assunto é água. Ele alimenta três aquíferos subterrâneos e seis das oito grandes bacias hidrográficas brasileiras, além de todo o Pantanal. O bioma é como uma floresta invertida: enquanto as árvores da Amazônia são grandes com raízes pequenas, as do Cerrado são menores, com raízes muito grandes. Ele funciona como uma grande esponja, que absorve e distribui a água por toda região, garantindo a sobrevivência de grande parte da população brasileira.

Apesar da sua importância em termos de biodiversidade e produção hídrica, metade da vegetação original do Cerrado já foi dizimada. Isso equivale a 100 milhões de hectares, o mesmo que toda área da Europa ocidental. Soares apresentou também um levantamento sobre a destruição do bioma em Minas Gerais. Entre 2009 e 2018, os dados mostram que 94% dos desmatamentos detectados não foram autorizados pelo órgão ambiental competente. No que tange à fauna, o cenário também é alarmante. Entre as 1.173 espécies ameaçadas de extinção, 272 estão no bioma, entre elas animais símbolos do país como tamanduá-bandeira, lobo-guará e onça-pintada.

Se o padrão de destruição observado entre 2003 e 2013 continuar, até 2050 registraremos a extinção de cerca de 480 espécies de plantas, índice três vezes maior do que toda a extinção documentada cientificamente no planeta desde 1500; as emissões corresponderão a 22 anos de emissões da Argentina (17º maior país emissor do mundo); e assistiremos às mudanças no funcionamento de todo o bioma, comprometendo sua capacidade de oferecer serviços ambientais essenciais.

Atualmente, somente 8% do Cerrado estão em unidades de conservação, sendo apenas 3% considerados como áreas de proteção integral. “Estamos muito longe de cumprir o compromisso de Aichi, que determina a proteção de 17% de cada bioma brasileiro até 2020”, lamentou Soares.