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Agropecuária é responsável por 23% das emissões de poluentes

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Agropecuária é responsável por 23% das emissões de poluentes

Sem mudanças, a humanidade não conseguirá barrar o aquecimento do planeta. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no início deste mês, alerta para as crescentes emissões do setor agrícola e seu impacto sobre o aumento da temperatura global. Junto da silvicultura e outras atividades de uso da terra, a agricultura é responsável por 23% de todas as emissões humanas de gases de efeito estufa (GEEs).

O documento, elaborado por mais de 100 especialistas de 52 países, destacou que é preciso reduzir as emissões de todos os setores para que o aquecimento do planeta seja mantido abaixo dos 2°C. Embora a queima de combustíveis fósseis e o setor energético sejam os grandes inimigos do clima, detendo 77% das emissões de carbono, transformações na gestão dos solos e na produção alimentícia mundial podem ajudar a conter as mudanças do clima.

Para uma pegada mais verde, além de reduzir o desperdício, a humanidade precisará mudar sua dieta, substituindo alguns produtos de origem animal por vegetais, segundo o dossiê. Em estudo publicado no ano passado, cientistas mostraram que a limitação no desperdício poderia reduzir em 16% algumas consequências da produção de alimentos, como emissão de poluentes, degradação de terras e exploração dos recursos hídricos.

“Algumas escolhas de dieta exigem mais do solo e da água e causam mais emissões de gases que aprisionam calor. Dietas balanceadas, com alimentos baseados em vegetais, como grãos alternativos, legumes e frutas, bem como alimentos de origem animal produzidos de forma sustentável, em sistemas de baixa emissão de gases de efeito estufa, apresentam grandes oportunidades para a adaptação às mudanças climáticas e para a limitação delas”, afirmou Debra Roberts, copresidente do Grupo de Trabalho II do IPCC.

Hoje, a agricultura corresponde a cerca de 70% do consumo mundial de água doce. O índice de desperdício é ainda mais preocupante: cerca de um terço da comida produzida é descartada. Os alimentos desperdiçados compreendem até 10% das emissões de GEEs de origem humana. Fatores como crescimento populacional, mudanças nas dietas – ocasionadas principalmente pelo aumento do consumo de carnes e gorduras vegetais – têm pressionado os ecossistemas, sobretudo a terra e a água.

Os impactos das transformações na produção e no consumo de alimentos vão desde a perda de ecossistemas, diminuição da biodiversidade até o aumento das emissões de GEEs. Entre 2007 e 2016, agricultura, silvicultura e outras práticas que utilizam o solo compreenderam cerca de 13% das emissões de gás carbônico (CO2), 44% das emissões de metano (CH4) e 82% das emissões de óxido nitroso (N2O) mundiais.

Em 2014, a pecuária em pastagens foi uma das práticas que mais emitiram poluentes, sendo responsável por mais de 50% das emissões de N2O da agricultura. A estimativa é que as atividades humanas impactem mais de 70% da superfície terrestre livre de gelo.

Soluções

Por ser capaz de reter emissões de poluentes, o solo desempenha papel importante na regulagem do clima. Mas, quando degradado, além de perder produtividade, o solo perde sua capacidade de absorção de gases de efeito estufa. Por isso, o relatório defende que a gestão sustentável da terra é a chave para enfrentar as mudanças climáticas.

Uma das soluções é a implantação dos “muros verdes”, com o cultivo de espécies nativas para conter a desertificação. A conservação ou reflorestamento de turfeiras, pântanos, pradarias, mangues e florestas, capazes de armazenar grande quantidade de CO2, também são alternativas para preservar o solo e o clima. Para os especialistas, a rotação de culturas continua sendo uma prática eficiente na gestão dos solos, já que impede o esgotamento dos nutrientes.

“Existe um potencial real aqui, por meio de um uso do solo mais sustentável, da redução do consumo excessivo e do desperdício de alimentos, da eliminação da derrubada e da queima de florestas, da prevenção da colheita excessiva de madeira usada como combustível e da redução de emissões de gases do efeito estufa, ajudando, portanto, a enfrentar questões de mudanças climáticas associadas ao solo” destacou presidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, Panmao Zhai.