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Canalização de rios da capital mineira aumenta riscos de enchentes e transbordamentos

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Canalização de rios da capital mineira aumenta riscos de enchentes e transbordamentos
Alessandro Borsagli na Terça Ambiental de agosto / Crédito: Amda

Uma inversão de valores transformou os rios urbanos das cidades brasileiras em sinônimo de degradação ambiental e desprezo pela sociedade e poder público. Em Belo Horizonte, estima-se que a canalização encobriu 200 quilômetros dos 700 km de cursos d’água urbanos. Este foi o tema da Terça Ambiental de agosto, que recebeu como palestrante Alessandro Borsagli, Mestre em Geografia e pesquisador atuante nas áreas relacionadas ao espaço urbano. O evento aconteceu nesta terça-feira (6), no CREA.

Borsagli desenvolveu uma extensa pesquisa para produção do livro “Rios Invisíveis da Metrópole Mineira”. Com uma palestra rica em imagens, o geógrafo relatou que o processo de degradação e ocultação dos cursos d’água que corriam no meio urbano aconteceu em um período relativamente curto, desde a inauguração da nova capital, em 1897, até a consolidação da metrópole na década de 1970. Entre os diversos rios canalizados estão o córrego do Leitão, abaixo da avenida Prudente de Morais, o Acaba Mundo, encoberto pela avenida Uruguai, e o córrego Serra, que corre pelo bairro de mesmo nome até o Funcionários.

Em sua pesquisa, Borsagli encontrou propagandas e matérias de jornal envaidecendo a canalização dos cursos d’água como progresso para a capital. Em uma propaganda da prefeitura, por exemplo, a cobertura era vista como saída para o “mau aspecto e cheiro ainda pior dos córregos a céu aberto”. Segundo o palestrante, a canalização também era considerada uma solução para impedir o despejo de resíduos e efluentes. Mas essa cultura enraizada permanece até hoje. O palestrante visitou diversos córregos de BH para produção do livro e observou todo tipo de resíduo descartado: de sofá e televisões a corpos de animais. Um dos participantes do evento relatou que já viu até um fusca jogado no ribeirão Arrudas, anos atrás.

A falta de conscientização da população e ausência de campanhas pelo poder público são agravadas pela contínua impermeabilização do solo, adensamento populacional e ininterrupta verticalização da cidade. Esses fatores vêm sobrecarregando os rios, aumentando casos de transbordamento e enchentes, cada vez mais frequentes e, muitas vezes, mortais.

“Apesar da degradação, poluição e invisibilidade, ainda existem paisagens lindíssimas. A conscientização precisa acontecer. Algumas instituições já estão movimentando em relação ao problema. É preciso entender a importância dos rios e defendê-los para que o processo de canalização não siga o ritmo atual”, concluiu Borsagli.