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Bambu se alastra na Amazônia e destrói flora nativa

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Bambu se alastra na Amazônia e destrói flora nativa
As espécies exóticas de bambu têm crescimento rápido e se alastram com facilidade em áreas degradadas/Crédito: Evandro Ferreira

A introdução de espécies exóticas é apontada como a segunda maior causa de perda de biodiversidade em um ecossistema. Na Amazônia, a proliferação de duas variedades exóticas de bambu têm colocado em risco 161 mil km² de vegetação na porção sudoeste do bioma – área superior ao tamanho do Acre. Estima-se que a ocorrência dos bambus aumentou cerca de nove vezes desde 2010, o que eliminou 70% das árvores nativas e reduziu em 73% a densidade de outras espécies presentes no local.

Segundo a engenheira florestal Elaine Dutra Pereira, da Universidade Federal do Acre (UFAC), as espécies Guadua sarcocarpa e Guadua weberbaueri se proliferam, sobretudo, em áreas que perderam sua cobertura vegetal por causa de incêndios, secas e desmate. As descobertas foram publicadas em sua dissertação de mestrado, orientada pelo botânico Evandro Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Os pesquisadores analisaram imagens dos satélites Landsat-5 e Landsat-8, da Nasa, capturadas entre 2009 e 2017. A partir dos dados, Pereira constatou a ocorrência do gênero Guadua em oito dos 18 tipos florestais existentes no Acre, nos quais as espécies eram dominantes ou secundárias. Desconsiderando a área desmatada, a gramínea está inserida em 93,7% das florestas do Acre. Nas matas dominadas pelos bambus é possível observar que o tamanho das copas das árvores é mais uniforme (a maioria do mesmo tamanho) e a coloração das folhas é mais clara.

Pelo grande porte, de até 30 metros, e por uma única população ocupar até 2.700 km², elas suprimem a vegetação nativa e ocasionam perda de biodiversidade. O crescimento também é rápido, chegando a 3,4 m por mês durante a estação chuvosa. Tais fatores fazem com que esses bambus se alastrem com facilidade em clareiras e áreas degradadas.

“A presença dessas espécies lenhosas de bambu do gênero Guadua nas florestas do sudoeste da Amazônia poderia não ser um problema se elas não fossem tão agressivas no processo de colonização de novas áreas no interior das matas”, explicou o botânico Ferreira.

Fogo

Para avaliar os impactos e as causas da expansão do gênero Guadua no Acre, outra pesquisadora da UFAC, Sonaira Souza da Silva, estudou a relação entre a proliferação dos bambus e os incêndios florestais. Para ela, as queimadas têm papel decisivo neste cenário, considerando que em matas preservadas há cerca de 600 indivíduos por hectare (ha), enquanto em zonas queimadas há aproximadamente 5 mil por ha. A pesquisadora acredita que nas florestas dominadas pelo bambu devido à ação do fogo, as probabilidades de regeneração ainda sejam pequenas.

Outro aspecto intrínseco às espécies do grupo é a mortalidade em massa. Com expetativa de vida em torno de 30 anos, os indivíduos morrem de uma só vez quando atingem essa idade, alterando toda a composição das florestas. Há profundas alterações na luminosidade que penetra, na temperatura – que sobe no interior da mata – e até na umidade relativa do ar, que diminui.

Estes espaços, que os bambus deixam para trás, ficam mais “secos” e, consequentemente, mais vulneráveis a incêndios florestais. As clareiras também se tornam ambientes propícios para proliferação de outras pragas, responsáveis por tirar o espaço de espécies nativas, cujo crescimento é lento. “A situação da mata fica tão precária, que, em imagem de satélite, ela se parece com uma área que foi derrubada”, pontuou Silva.

Os impactos da espécie sobre o bioma amazônico abrangem até a quantidade de árvores existentes. Em matas sem os bambus lenhosos, a quantidade de espécimes pode chegar até 600. Naquelas em que ele está presente, o número fica entre 200 e 300. “Além disso, a presença do Guadua e o menor número de árvores muda o microclima florestal, que fica menos úmido (mata mais aberta recebe mais ventilação, que carrega a umidade), mais quente e com maior incidência de luz chegando ao solo”, indicou a pesquisadora.

Especialistas alertam para perda de diversidade da flora amazônica em decorrência da proliferação dos bambus. Com as mudanças no clima, luminosidade e até composição florestal do bioma, a regeneração de outras espécies pode ser severamente comprometida.

Com informações da BBC

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