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Botos rosa utilizam mais de 200 sons para se comunicar

Botos rosa utilizam mais de 200 sons para se comunicar
Botos rosa no rio Araguaia / Crédito: Gabriel Melo-Santos/University of St Andrews/BioMA

Diferentemente do que acreditavam, pesquisadores descobriram que os botos rosa possuem uma comunicação vasta e diversificada. Foram identificados 237 sons. O mais comum era emitido quando filhotes estavam presentes, sugerindo uma comunicação entre eles e as mães.

O cientista Gabriel Melo-Santos estudou os botos que frequentam as águas da área do mercado de peixe do município de Mocajuba, no Pará. Em busca de alimentos, os animais costumam fazer visitas diárias ao local, o que permitiu acompanhamento com maior regularidade.

De acordo com Melo-Santos, as águas de Mocajuba são transparentes, sendo possível observar o comportamento dos botos de perto e identificá-los por suas marcas naturais. “Sabemos quem é cada boto, o sexo e a faixa etária. Dessa forma, conseguimos associar os sons gravados aos contextos comportamentais”, explicou.

Câmeras e microfones subaquáticos capturaram mais de 20 horas de imagens e mais de 200 sons foram identificados. “Os sons emitidos pelos botos podem nos ajudar a entender como se deu a evolução da comunicação sonora nos cetáceos. Além disso, precisamos saber como se dá o sistema de comunicação dos botos para entender como eles podem ser afetados por atividades humanas (como o tráfego de embarcações, por exemplo)”, pontuou Melo-Santos.

O pesquisador explicou que a linhagem evolutiva dos botos (e outros golfinhos de água doce no mundo) divergiu dos outros cetáceos (baleias e golfinhos), o que faz deles relíquias evolutivas e peças importantes para desvendar como essa comunicação avançou. Por exemplo, os sons usados pelos botos são diferentes dos assobios dos golfinhos. Acredita-se que os assobios, usados com menor frequência pelos botos, funcionam para afastar outros grupos, e não uma comunicação entre eles, como utilizados pelos golfinhos.

Os chamados dos botos ficam em uma frequência entre os sons de baixa frequência emitidos por baleias e os de alta frequência emitidos por golfinhos. Para a bióloga Laura May Collado, da Universidade de Vermont, que também participou do estudo, isso acontece por causa do habitat dos botos. “Há muitos obstáculos, como florestas inundadas e vegetação em seu habitat, então esse sinal pode ter evoluído para evitar ecos da vegetação e melhorar o alcance de comunicação das mães e seus filhotes”, disse.

A próxima etapa da pesquisa é verificar como os botos, em regiões com menor presença humana, se comunicam e identificar se os chamados dos animais carregam sua identidade individual e/ou sinalizam sua localização.