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Milhares de aves morrem por dia em colisões contra vidraças

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Milhares de aves morrem por dia em colisões contra vidraças
Rolinha-roxa foi uma das aves que mais colidiram contra as vidraças /Crédito: Helberth Peixoto

A conversão de florestas em áreas urbanas é uma das principais ameaças à fauna selvagem, pois altera os ambientes naturais, interferindo na distribuição e hábitos das espécies. Alguns animais até se adaptam bem ao meio urbano – a exemplo de muitas aves –, mas estruturas transparentes, como vidraças de prédios comerciais e residências, têm colocado em risco a vida de pássaros que circulam pelas cidades.

Pesquisas indicam que a colisão contra painéis de vidro transparentes é a segunda maior causa antropológica, isto é, motivada pelo homem, da mortalidade de pássaros. Os choques são inevitáveis porque, diferentemente do homem, as aves enxergam os raios UV’s, vendo as imagens refletidas como uma extensão do ambiente, e não como barreira.

Estima-se as colisões sejam a causa da morte de aproximadamente 1 bilhão de aves por ano nos Estados Unidos e Canadá. Na Europa, o número de mortes por vidraças chega a 250 mil por dia. No Brasil a situação não é diferente, mas ainda não há estudos suficientes sobre o tema. Odette Gonçalves de Araújo, veterinária e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), avaliou recentemente o impacto dos painéis em aves de Manaus (AM).

O monitoramento ocorreu entre outubro de 2015 e abril de 2016. Foram selecionados 11 prédios com até 17 andares para análise. Quinzenalmente, a equipe coletou vestígios de colisões de aves. Em seis meses, apenas nestes edifícios, 13 choques foram registrados. Considerando que uma cidade urbanizada como Manaus abriga milhares de edificações com vidraças, os números coletados são quase insignificantes perto da estimativa real de colisões, apenas no município. Por isso não é difícil perceber o tamanho do problema.

“É um problema negligenciado, que está muito longe do conhecimento da população”, declarou Odette, indicando que entre as aves acidentadas havia espécies endêmicas da Amazônia. Ao todo, colidiram contra os prédios três pariris (Geotrygon montana), seis rolinhas-roxas (Columbina talpacoti), uma limpa-folha-do-buriti (Berlepscia rikeri), um araçari-de bico-branco (Pteroglossus aracari), um pombo doméstico (Columba livia) e uma espécie não identificada.

Muitos indivíduos não resistem aos choques e, os sobreviventes, podem ter sua expectativa de vida reduzida por conta dos ferimentos. As fraturas mais comuns são as no crânio, na coluna vertebral e nas asas. O estudo observou que as aves que sobreviveram apresentaram, além de desorientação, hemorragias e paralisias que evoluíram com o tempo.

De acordo com o levantamento, a presença de aves em torno de vidraças é comum, levando em conta as fezes encontradas nos vidros. O estudo apontou algumas soluções para diminuir o índice de choques, como adesivos de aves em vidraças para inibir a aproximação dos indivíduos; instalação de redes sobre os painéis; e até aplicação de insulfilm.

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