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Cientistas exigem compromissos ambientais do Brasil como critério para relações comerciais

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Cientistas exigem compromissos ambientais do Brasil como critério para relações comerciais
Crédito: Getty Images

Grandes redes de supermercados britânicos foram acusadas de comprar carne enlatada de produtores brasileiros ligados ao desmatamento ilegal na Amazônia. Segundo a ONG Friends of the Earth (Amigos da Terra), ao analisar a cadeia de fornecimento das lojas foram identificadas evidências de que os produtos eram da JBS. A empresa já foi acusada de corrupção e corte ilegal de árvores.

A JBS negou a compra de carne de fazendas envolvidas com o desmatamento, mas a relação entre o Brasil e seus parceiros comerciais segue abalada, sobretudo pelo posicionamento desfavorável do atual governo frente à proteção do meio ambiente. Em sua reforma ministerial, o presidente Jair Bolsonaro promoveu drásticas mudanças nas instituições ambientais. Com isso, as políticas voltadas para o meio ambiente foram enfraquecidas, preocupando compradores internacionais com princípios de sustentabilidade.

Em abril, mais de 600 cientistas de instituições da Europa assinaram um manifesto pedindo que a União Europeia (UE), segundo maior parceiro comercial do Brasil, condicione a compra de produtos brasileiros à execução de compromissos ambientais. O documento foi publicado na revista Science e elaborado em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

A proposta é inserir a pauta socioambiental nas negociações comerciais em andamento, via Mercosul, pressionando o país a adotar modelos de produção sustentáveis que garantam os direitos humanos e ambientais. Assinado por integrantes de 28 países-membros da UE, o manifesto expressou preocupação com os impactos ambientais e sociais da importação brasileira de commodities.

“Ao trabalhar no sentido de desmantelar as políticas contra o desmatamento, a nova administração do Brasil ameaça direitos dos indígenas e as áreas naturais que eles protegem”, indicou o manifesto.

Para reverter esse cenário, o grupo elencou três condições para que o país continue negociando com a UE: o cumprimento da declaração da ONU sobre direitos indígenas, rastreamento eficiente de commodities ligadas ao desmatamento e conflitos agrários, bem como a inclusão de comunidades locais na elaboração de critérios socioambientais para comércio de commodities.

Os cientistas destacaram que a sustentabilidade deve ser o pilar das negociações com o Brasil, considerando a importância da vegetação para mitigação das mudanças do clima e manutenção de comunidades indígenas. As florestas ainda são fundamentais para regulagem da chuva, da qual a agricultura é dependente. Logo, a ineficácia das políticas ambientais compromete não só o meio ambiente, mas, consequentemente, o fornecimento de produtos e o mercado internacional, lembraram os especialistas.

“A restauração de terras degradadas e a melhoria da produtividade poderia atender a demanda agrícola crescente por no mínimo duas décadas sem a necessidade de mais desmatamentos”, acrescentou o manifesto.

Procedência

Em 2017, a União Europeia importou mais de 2 bilhões de euros em ração pecuária do Brasil, mas não há conhecimento sobre a procedência dos produtos, se foram ou não cultivados em terrenos desmatados ou associados a conflitos por terra.

Além disso, cerca de 3 bilhões de euros foram investidos em commodities de ferro brasileiras, “a despeito de perigosos padrões de segurança e do extenso desmatamento impulsionado pela mineração”, pontuou a carta. Os europeus não desejam o rompimento das relações com o Brasil, mas exigem mais transparência na produção e comércio dos produtos fornecidos pelo país.

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