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Mais de 60% dos grandes rios estão bloqueados por construções

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Mais de 60% dos grandes rios estão bloqueados por construções

Barragens, reservatórios e demais obras de infraestrutura obstruem quase dois terços dos maiores rios do mundo, impedindo que corram livremente, indicou um grupo internacional de cientistas. Eles avaliaram o status de conectividade de 12 milhões de quilômetros de rios ao redor do planeta, criando a primeira cartografia mundial sobre o impacto de construções sobre estes cursos d’água.

Segundo o estudo, publicado na revista Nature, apenas 37% dos 246 rios com mais de mil km de extensão possuem o caminho livre ao longo de seu curso e só 23% fluem ininterruptamente até o oceano. Ou seja, 63% dos grandes canais estão bloqueados. Os rios Irrawaddy e Salween (de 1,7 km), na Ásia, são alguns dos poucos de grande porte que permanecem livres.

A maior parcela dos “rios livres” está em regiões remotas do Ártico, bem como nas bacias do Congo e Amazônia. Nesses locais há menor índice de investimento em infraestrutura, apesar de esse cenário estar mudando. Os rios amazônicos, por exemplo, estão na mira de aproximadamente 500 projetos de construção de hidrelétricas, de acordo com o levantamento.

A relação proposta pelos especialistas é que quanto maior o rio, maior é a chance de ele ser obstruído, considerando que 97% dos menores do mundo, que não excedem os 100 km, estão fluindo livremente. Enquanto isso, a maioria dos que ultrapassa os 500 km de extensão estão obstruídos.

Impactos

Dentre as construções, as hidrelétricas são apontadas como as maiores vilãs pelos cientistas. Atualmente são 2,8 milhões no mundo, sendo que 60 mil são de grande porte e atingem ao menos 15 metros de altura, indicou o estudo. A modalidade energética é vista por muitos como ecologicamente correta por não emitir poluentes, mas seu impacto sobre os ambientes naturais são desprezados.

Quando livres, os cursos d’água abrigam ecossistemas diversificados, mitigam os impactos de alagamentos e secas, além de fornecerem serviços essenciais a animais e humanos, como alimentos e sedimentos essenciais à agricultura. Mas a obstrução, sobretudo por obras de infraestrutura, contribui para a perda de biodiversidade, pois fragmenta rios, desequilibra seu fluxo e degrada os habitats.

Na bacia do rio Amazonas a construção da hidrelétrica de Belo Monte está ameaçando peixes endêmicos da região, conforme alerta de um grupo de pesquisadores no ano passado. Belo Monte está sendo construída na bacia com maior biodiversidade aquática do planeta. Ao todo são 2.411 espécies distribuídas por seus afluentes, sendo 1.089 endêmicas. Só no Xingu, existem 63 espécies que não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo. Represar o rio pode ser fatal para elas.

A instalação de represas altera o ciclo hidrológico dos rios, mudando as épocas de cheias e secas, além de modificar seu fluxo. Com isso, a corrente livre se transforma em uma espécie de piscina, tornando o habitat inviável para uma gama de animais.

Por esses motivos, os autores concluem que é importante que novas fontes de energia sejam implementadas, pois da mesma forma que é importante combater as mudanças do clima – adotando fontes limpas de energia – a biodiversidade aquática também deve ser levada em conta. Diante disso, energias solar e eólica, bem planejadas, podem ser opções às hidrelétricas, indicou o estudo.